O filme tal faturou 80 milhões de dólares em seu fim de semana de estreia. Outro já acumulou mais de 400 milhões em todo o mundo em pouco mais de três meses. O cantor X renovou seu contrato com a gravadora por 50 milhões, depois de seu último disco ter chegado à marca de 10 milhões de cópias vendidas. O livro Y bateu o recorde de vendas, com 1,2 milhão de cópias. O jogador de futebol Z foi contratado por 20 milhões. E a empresa Z anunciou ter investido 100 milhões no Brasil este ano.

Números, números, números… Já virou piada entre jornalistas, durante entrevistas coletivas, especialmente com executivos de grandes empresas: sempre tem alguém perguntando coisas como: quanto a empresa investiu? Quanto irá investir no ano que vem? Qual foi o seu crescimento? E por aí vai. Pior: no dia seguinte (ou às vezes no mesmo dia, em tempos online), aqueles números são publicados como verdade absoluta. Testemunhei um caso em que o entrevistado simplesmente não tinha nenhum número para divulgar. Insistiram tanto que ele decidiu chutar… e deu certo: sua entrevista foi considerada um sucesso!

Pensem bem: que diferença faz para o leitor/consumidor/cidadão saber se tal empresa faturou X ou Y? Ou se cresceu tantos por cento? Ou se irá investir tantos milhões? O que esses números significam? Absolutamente nada. Você vai assistir a um filme só porque alguém disse que faturou 80 milhões nos EUA? Ou comprar o disco de tal cantor(a) baseado em quanto ele(a) recebeu da gravadora? Quem sai ganhando quando esses dados são publicados?

Essa divagação numerológica me bateu hoje ao ler a notícia de que o console Nintendo Wii U está esgotado nos EUA, após ter vendido 400 mil unidades em uma semana. A informação, claro, foi divulgada pelo fabricante e “comprada” pela maioria dos sites de tecnologia e/ou de negócios. Consequência natural: o preço vai subir. E, com as notícias viajando pelo mundo em tempo real, vai subir não apenas no mercado americano, mas em todos os outros países onde é vendido.

A sensação é a mesma que tive, anteriormente, ao saber que o iPhone (ou o iPad, tanto faz) vendeu tantos milhões de unidades! E daí? Isso torna o aparelho melhor? Ou apenas mais caro, principalmente em países que estão na periferia do mundo, como é o caso do Brasil? Me faz lembrar um anúncio de alguns anos atrás, de um TV Panasonic, que dizia algo assim: “Uma tela que reproduz 8 bilhões de cores diferentes. Pode contar.”

É isso aí: quem vai contar?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *