Nas redes sociais, não passa um minuto sem algum comentário contra a Rede Globo. O fenômeno está longe de ser novo; puxando pela memória, vamos encontrar artigos e “denúncias” contra a empresa da família Marinho desde os anos 60, quando seu apoio à ditadura militar era escancarado. Com a avalanche das mídias digitais, nem é necessário escrever um artigo, tarefa que exige do autor, primeiro, saber arquitetar algumas ideias e, o mais importante, apor sua assinatura ao texto. Para quê se preocupar com esses pormenores? Na internet, qualquer um escreve sobre qualquer coisa, replica, os amigos tuítam, compartilham e em minutos um amontoado de palavras (com seus inevitáveis erros de grafia, acentuação e sintaxe) ganham o mundo.

Para o bem ou para o mal, a Globo é a inimiga pública preferida de certa parte da mídia que se diz “independente”. Puxam a fila ex-funcionários da própria empresa, amparados em blogs que se propõem a denunciar os bastidores da emissora, especialmente seu departamento de Jornalismo. É curioso que ex-funcionários de outras redes não se dêem ao mesmo trabalho. Nestas, provavelmente não há interferência da cúpula sobre o conteúdo, nem seus proprietários têm qualquer ligação com grupos econômicos ou partidos políticos. Todos os que trabalham em televisão estão plenamente satisfeitos com seus patrões – menos os da Globo.

Desde as manifestações de junho do ano passado, essa corrente pra frente contra a maior emissora do país ganhou novos elos. O ímpeto dos autointulados mídia ninjas amplificou o que foi classificado como “clamor popular”, como se os 60 ou 70 milhões de brasileiros que assistem à emissora diariamente tivessem decidido dar um basta. Pelas mídias online, esses grupos instauraram um new journalism de pé quebrado, alertando os desavisados que a partir dali nada mais seria como antes na relação entre público e emissoras.

Essa espécie de assédio moral invertido, em que profissionais de imprensa passaram a ser hostilizados – alguns foram até espancados (sem falar no cinegrafista da Band cuja morte, até prova em contrário, pode ser atribuída a uma fatalidade)-, durou até chegarem os capítulos finais da novela das 9. Existe a expectativa de que retorne nas próximas semanas, conforme se aproxima a Copa, mas refluirá certamente à medida que a seleção brasileira for dobrando seus adversários.

Esta semana, uma cena constrangedora envolvendo uma repórter da Globo veio se juntar ao verdadeiro febeapá* em que se transformou a discussão sobre a mídia (vejam aqui o vídeo). Um debate que teria tudo para ajudar o país a sair do atoleiro político e cultural em que há anos está envolvido, mas que descamba para a mais grotesca briga entre torcidas, especialmente em época eleitoral. Canhestramente, já que não podem condenar um a um os milhões de telespectadores que assistem à Globo, tenta-se transformá-la em artífice das desgraças brasileiras.

O mais cruel dessa atitude hipócrita é seu resultado: mais e mais audiência para a emissora. Tem tudo a ver.

*Febeapá, para os mais jovens, é a genial sigla de “Festival de Besteira que Assola o País”, criada nos anos 60 pelo jornalista Sergio Porto (Stanislaw Ponte Preta).

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