Gosto muito de uma frase, já reproduzida aqui no Blog, dita por Gustavo Petro, ex-prefeito de Bogotá (Colômbia), quando esteve em São Paulo anos atrás: “País desenvolvido não é aquele onde os pobres têm carro, mas aquele onde os ricos usam transporte público”. Basta andar por grandes cidades europeias para ver como esse “pequeno detalhe” faz diferença!

Petro hoje é presidente de seu país e faz o que pode para diminuir as desigualdades. Parece que seu governo não é lá muito bem avaliado, mas essa é outra história. Já escrevi aqui que a tecnologia pode ser uma grande arma no combate às desigualdades, especialmente em países tão complicados quanto Brasil e Colômbia. E há outros parâmetros além do transporte público para aferir se esse combate está sendo bem sucedido.

Um deles é o sistema de Justiça. Assistam à série The Dropout (Star+), por exemplo, para ver os desdobramentos do caso Theranos, sobre a executiva Elizabeth Holmes (foto), que criou no Vale do Silício uma megacorporação na área de saúde, mais tarde acusada de fraude. A denúncia surgiu em 2016 e a moça foi presa, processada e agora condenada a 11 anos de cadeia, além de ter que pagar uma indenização de US$ 452 milhões às pessoas que prejudicou.

Os casos Enron, Madoff e Fannie Mae (aqui, os detalhes) são apenas mais alguns do gênero: milionários tentando dar golpes de todo tipo. Todos foram processados e presos, sem dó nem privilégios.

Por aqui, um homem foi flagrado em São Paulo roubando duas caixas de bombons num supermercado e saiu arrastado por dois policiais, com braços e pernas amarrados, após uma ordem de “prisão preventiva” (vejam o vídeo). Não foi a primeira vez, nem será a última, infelizmente – e só ficamos sabendo graças à tecnologia: alguém decidiu filmar tudo com seu celular e o vídeo está em todas as redes, mostrando inclusive os rostos dos policiais que mais parecem bandidos.

Enquanto isso, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) anunciou na semana passada a condenação de dois ex-presidentes da operadora Oi, Zeinal Bava e Bayard Gontijo, por crimes ocorridos há cerca de dez anos. Ambos usaram seus cargos por “dar aumento a si mesmos”, velho truque bem conhecido de políticos e dirigentes de estatais brasileiras, e revivido recentemente no caso Americanas.

Em tempo: a Oi, embora não seja estatal, até pouco tempo atrás agia como se fosse, protegida por importantes conexões nos centros de poder (já comentamos isso aqui, aqui e algumas vezes).

As punições da CVM estão bem explicadas neste link, com nomes, datas e valores que, claro, superam em muito o de uma caixa de bombons. Como de costume, os dois condenados estão soltos, empreendendo e dando consultorias por aí, e certamente terão todo o tempo do mundo (e bons advogados) para negociar o pagamento dos valores que a CVM lhes está cobrando: R$ 169 milhões no caso de Bava, R$ 24 milhões no de Gontijo.

Que se saiba, não passou pela cabeça de nenhum juiz mandar prender os dois meliantes de colarinho bem passado. Muito menos amarrá-los pelos pés e as mãos.

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