No dia seguinte à histórica derrota brasileira contra a Alemanha, a Folha de São Paulo, refletindo sobre mais um trauma que se abateu sobre a “pátria de chuteiras”, publicou interessante artigo do físico André Luis Parreira, diretor da empresa americana Hiperlab, que fabrica equipamentos científicos. Graduado e mestre em escolas brasileiras, Parreira levanta uma questão que passa longe das conversas sobre a perda de mais uma Copa do Mundo. A verdadeira “goleada” da Alemanha, diz ele, vem sendo aplicada há décadas, em itens como ensino, cuidados com a ecologia, investimentos em energias renováveis e gestão racional dos recursos públicos – sem falar em seus artistas, escritores, filósofos e, principalmente, todo o esforço de reconstrução do país após perder duas guerras mundiais em menos de vinte anos. E sem esquecer que, além disso tudo, os alemães também são fanáticos por futebol e adoram uma cerveja. Tomo a licença de reproduzir o artigo abaixo, como contribuição àqueles que se queixam por nossa seleção não ter se preparado adequadamente para ganhar a Copa.

A GOLEADA PARA A ALEMANHA

Sua respeitada ciência, sua história de reconstrução, a economia robusta, os automóveis e, mais recentemente, a energia renovável fazem a Alemanha estar sempre presente em nossas rodas de conversa. Lá, um povo apaixonado por futebol e cerveja consegue grandes placares também fora do campo.

Por aqui, em 26 de junho e em ritmo de Copa do Mundo, foi sancionado pela Presidência da República o Plano Nacional de Educação (PNE). A meta mais comentada, embora não a mais relevante, tem sido a de se destinar 10% do PIB (Produto Interno Bruto) à educação em dez anos. Hoje, são investidos 6,4%.

Felizmente, há outras metas previstas no PNE, pois somente esse aumento do investimento, ainda que significativo, não será suficiente para alcançarmos placares de patamar alemão ou de qualquer outro país que seja destaque educacional. Podemos concluir isso com a projeção de alguns números recentes do relatório “Education at a Glance”, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Proporcionalmente, destinar 10% do PIB à educação faria o investimento médio por estudante saltar de aproximadamente US$ 2.900/ano para cerca de US$ 4.500, o que ainda fica muito aquém dos US$ 10 mil/ano investidos pela Alemanha.

O salário inicial médio de um professor de educação básica no Brasil passaria dos atuais US$ 5.000/ano para US$ 7.500 contra US$ 30 mil/ano na Alemanha. Como exigir cada vez mais anos de estudo e qualificação dos professores quando se oferece tão pouco?

Mas o investimento ainda terá que dar conta de outra triste realidade: a precária estrutura para o desenvolvimento de uma educação de qualidade para a ciência. Já tive a oportunidade de visitar escolas na Alemanha e constatei que o laboratório de ciências, aliado a projeto pedagógico, é parte do dia a dia desde o ensino fundamental.

Por aqui, segundo o portal QEdu.org.br, somente 2% das escolas públicas municipais possuem laboratório de ciências. Se esticarmos a amostra para escolas públicas, o que engloba as estaduais e as federais, o número cresce para 8%. E a pesquisa fala somente em possuir, nada sobre sua utilização efetiva.

No Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2012, com participação de 65 países, o placar em ciências ficou assim: Brasil com 405 pontos (59º lugar!) x Alemanha com 524 pontos (12º lugar!).

No quesito inovação tecnológica, os alemães solicitaram 20 vezes mais registros de patentes do que nós. E, se colocarmos no placar o número de prêmios Nobel desde 1901, teremos Alemanha 103 x 0 Brasil!

Ou seja, precisamos de muito mais que o investimento do PNE para melhorarmos nosso desempenho. Vamos ter que aprender com os alemães e trabalhar por muitos anos para reduzir as diferenças. Na educação, já estamos na prorrogação.

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