Diz um antigo provérbio que quando não se pode derrotar o inimigo é melhor unir-se a ele. É o que acaba de fazer a Sharp Corporation, do Japão, ao vender metade de sua divisão de displays à taiwanesa Hon Hai, que também adquiriu 9,871% das ações do grupo japonês. Diz o jornal Yomiuri Shimbun que trata-se de uma “aliança estratégica”, mas essa definição é nobre demais para os termos em que o acordo foi costurado. Não foi bem uma aliança, foi desespero mesmo.

Pelo que as duas empresas divulgaram, a Sharp irá repassar à Hon Hai um total de 66,9 bilhões de ações, o que transformará o grupo taiwanês no maior acionista individual da gigante japonesa. Só esse fato já dá a dimensão da coisa: nunca antes um grupo japonês se permitiu passar a um estrangeiro a maior parcela de suas ações com direito a voto! Mais: a Hon Hai passa a deter 46,5% da SDP (Sharp Display Products Co.), pagando 66 bilhões de iênes, o que equivale hoje a cerca de US$ 800 milhões. A SDP é dona da mais moderna fábrica de painéis LCD do mundo (foto acima), na cidade de Sakai, que agora irá fornecer metade dos painéis usados pela Hon Hai, proprietária de diversas montadoras de TVs, monitores e tablets, incluindo a maior delas, nossa conhecida Foxconn.

Com essa, digamos, engenharia financeira, a Sharp Co. irá receber aproximadamente US$ 1,6 bilhão em dinheiro vivo para cobrir a maior parte do enorme rombo (US$ 3,5 bilhões) que se abriu em seu balanço no atual ano fiscal, como comentamos aqui recentemente. Significa que a Sharp abre mão de algo até agora sagrado: sua estrutura operacional verticalizada, em que tudo – do design à finalização dos produtos – é feito no Japão. “Essa estrutura revelou suas limitações”, disse o novo CEO, Takashi Okuda, nesta terça-feira, em Tóquio, ao anunciar o acordo. “Agora, poderemos lançar produtos atraentes e competitivos na hora certa, contando com a estrutura de custos da Hon Hai”.

Nos últimos meses, a Sharp chegou a ensaiar uma parceria com a Sony para tocar a divisão de displays, mas ambas concluíram que isso não solucionaria seus problemas de fluxo de caixa. Dinheiro, mesmo, está do outro lado do Pacífico, na China, Coreia e Taiwan. Terry Gou (foto), o polêmico presidente da Hon Hai, comentou que esse é um caminho sem volta para a indústria japonesa: investir em pesquisa e desenvolvimento, deixando a fabricação em si para os chineses.

Não deve ser fácil aceitar essa dura realidade, mas a partir de agora é assim que os japoneses terão que competir, se quiserem continuar no jogo.

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