Até a Copa de 2014, todas as cidades com mais de 50 mil habitantes estarão recebendo sinal de TV Digital. É a previsão do Fórum SBTVD, que regula as normas de transmissão e recepção no país. O problema: o Brasil tem 5.565 municípios e, destes, menos de 1.000 possuem 50 mil habitantes ou mais. Ou seja, cerca de 80% deles ficarão sem ver a Copa em TV Digital. Quanto representa isso em termos de população? Tomando por base o último censo do IBGE, aproximadamente 40 milhões.

Essa é a dura realidade, bem diferente das promessas feitas pelo ex-presidente Lula em 2007, quando inaugurou o Sistema Brasileiro de Televisão Digital. O chamado switch-off – quando todas as emissoras terão obrigatoriamente que desligar seus transmissores analógicos e passar a transmitir somente sinal digital – está marcado para 2016, mas a esta altura ninguém de bom senso acredita que esse cronograma possa ser cumprido. “Só se o governo decidir investir pesado”, diz Frederico Nogueira, ex-presidente e atual porta-voz do Fórum.

Nogueira, como todo mundo no Fórum, defende que o cronograma está indo bem, comparado com os de outros países. O fato de a maioria da população poder assistir à Copa com sinal digital, diz ele, é prova de que o SBTVD é um sucesso. “Em todos os países foi assim: cidades muito pequenas precisam de apoio financeiro do governo, porque não têm retorno comercial”, me disse ele. “Aliás, para as emissoras até agora a TV Digital só trouxe despesa, nada de retorno, a não ser pelo fato de que o telespectador recebe um sinal de melhor qualidade”.

A solução, ainda de acordo com o Fórum, é as prefeituras das pequenas cidades se mobilizarem. Nogueira explica que, em muitas localidades, o próprio prefeito manda instalar uma torre de recepção e cada residência coloca sua antena, de modo a captar o sinal que chega a uma cidade maior nas redondezas. “Talvez a Copa sirva de motivação para esses prefeitos acelerarem a infra-estrutura necessária”, diz ele.

Mais complicado, porém, será convencer as famílias mais pobres a trocarem seus TVs de tubo pelos novos, com receptor digital integrado. Lembro que, nos EUA, isso foi um tremendo problema em 2009, quando o recém-empossado Barack Obama teve que criar um plano de emergência para o switch-off. Muitas famílias se diziam satisfeitas com sua TV analógica, e o governo teve que subsidiar a troca. Será que veremos o mesmo no Brasil? Ou, refazendo a pergunta, você – como contribuinte – está disposto a bancar mais essa conta?

1 thought on “Das promessas à realidade

  1. Se estou disposto a pagar essa conta:é claro que não!Mas,neste país a sua ou a minha opinião,são irrelevantes.O governo decide fazer o “bolsa isso e bolsa aquilo” e à classe média só resta pagar mais imposto para cobrir o programa.Infelizmente é isso!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *