Não é qualquer empresa que pode anunciar publicamente um prejuízo de bilhões num único trimestre (talvez as de Eike Batista, mas aí o governo ajuda…). Como no Japão as coisas são um pouco diferentes, três dos maiores grupos do setor eletrônico – Sony, Sharp e Panasonic – estão passando por isso exatamente agora. Em março, quando termina o ano fiscal japonês, elas terão que acertar as contas com seus acionistas, a esta altura pra lá de desesperados.

Os dados foram divulgados em Tóquio nesta quinta-feira. “Tudo é negativo, e ninguém vê perspectivas de recuperação”, resumiu um analista da Chibagin, empresa que gerencia fortunas e patrimônios no país. O tombo maior foi da Panasonic (US$ 9 bilhões no período julho-setembro), o que levou à queda imediata das ações e à ameaça de rebaixamento pela Moody’s, agência de classificação de risco. Nessas horas, ao contrário do que acontece em outros países, os executivos japoneses vêm a público para dar satisfações. Kazuhiro Tsuga (foto), CEO do grupo, foi sintético, mas não quis deixar dúvidas: “Lamento informar que nossa empresa hoje faz parte do ‘grupo de perdedores’ e isso nos obriga a fazer mais cortes”, disse ele, confirmando a demissão de 39 mil funcionários e a redução dos investimentos em painéis solares e baterias recarregáveis. “Se não tomarmos essas medidas, tudo que dissermos será apenas uma promessa vazia”, completou.

A situação da Sharp não é menos grave. Pela primeira vez em seus 100 anos de existência, a direção do grupo admite que seu futuro é incerto. “Demoramos para agir”, confessou aos jornalistas o atual CEO, Takashi Okuda, ao anunciar um prejuízo de US$ 3,1 bilhão no trimestre, contra um lucro de US$ 113 milhões no mesmo período do ano passado. “Tudo seria diferente se tivéssemos agido com maior rapidez”. Agido, no caso, significa procurar ajuda com outros grupos, que poderiam se interessar, por exemplo, no desenvolvimento de painéis orgânicos, setor em que a Sharp ficou para trás. As negociações com os chineses da Hon Hai continuam, segundo Okuda, mas agora com bem menos entusiasmo.

Nesta espécie de quinta-feira negra para a indústria japonesa, a Sony também divulgou seu balanço do trimestre, relatando prejuízo de US$ 118 milhões, bem mais administrável. O problema é que esse tipo de resultado vem se repetindo desde 2004, o que levou o CEO Kazuo Hirai, quando assumiu em abril, a anunciar medidas duras. Já houve fechamento de fábricas, foram desfeitas as parcerias com a Sharp e a Samsung para produção de painéis LCD, praticamente toda a produção de TVs foi terceirizada para fornecedores chineses e cerca de 10 mil funcionários estão sendo demitidos.

Um bom resumo da situação das três empresas saiu hoje no site do The Wall Street Journal. É uma pena, mas pelo visto tudo que os japoneses vêm sofrendo nos últimos anos é somente o começo.

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