Reportagem de Renato Cruz no Estadão de hoje lembra de algo que, pelo jeito, a maioria das pessoas havia esquecido: a interatividade na televisão. Com toda a divulgação em torno dos TVs que acessam a internet (recurso que deve se tornar padrão logo, logo), vem passando batido o fato de que praticamente todos os envolvidos deixaram de lado o velho Ginga (rebatizado DTVi). Como bem lembra Renato, essa é a única parte realmente “brasileira” do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), que, como se sabe, é derivado do padrão japonês ISBD-T. Era uma das promessas do governo brasileiro em 2007, quando começaram as transmissões digitais.

Entre as emissoras, temos visto algumas experiências interessantes, especialmente da Globo, mas sem maior repercussão. Fabricantes como Sony e LG já instalaram o DTVi em seus televisores, mas sem destacar esse detalhe nos pontos de venda. E o Ministério das Comunicações, assim como a Anatel, age como se nada tivesse a ver com isso. Aliás, está em discussão um projeto para obrigar os fabricantes a incluir o recurso nos TVs (por pressão dos desenvolvedores de software), e o governo evita se comprometer com a ideia. Curiosamente, tanto a Eletros (Associação dos Fabricantes) quanto o Fórum SBTVD (teoricamente o maior interessado em ver avançar a TV Digital) também ficam em cima do muro. “Não discutimos formalmente o assunto”, diz o presidente do Fórum, Roberto Franco. Se não discutiram, deveriam ter discutido – é para isso que existe a entidade.

A verdade – que todo mundo sabe, mas ninguém tem coragem de falar – é que não há mercado para a interatividade na televisão brasileira, por mais que esse recurso pareça atraente. Nenhum país do mundo a adotou, e não há por que ser diferente aqui. Desenvolvedores criam aplicativos e precisam vendê-los às emissoras, mas estas só irão comprar se puderem faturar mais com publicidade. No fundo, é disso que se trata: quem está disposto a pagar essa conta?

1 thought on “Esqueceram a interatividade

  1. Eu venho dizendo isso desde antes mesmo da implantacao da TV no Brasil, e nao tenho porque mudar o discurso: o Ginga sempre foi a ideia mais abolutamente INUTIL da TV Digital. O tipo de interatividade que ele implementa nao “pegou” em nenhuma parte do mundo, as pessoas simplesmente NÃO LIGAM, nao se interessam por ela.

    Pior, a internet tornou essa interatividade totalmente ultrapassada. Era obvio que televisores com acesso direto à internet (que ja se tornaram realidade ate mesmo aqui no Brasil) teriam muito mais a oferecer que o limitado Ginga.

    O bicho so serviu de propaganda, e mais nada. De resto, sempre foi algo totalmente inutil (falo da pratica do dia-a-dia, nao da teoria), desde sua concepcao. RIP Ginga! Sequer veio tarde.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *