Nove questões sobre o impacto da tecnologia online

Por Jeffrey Cole*

O Centro para o Futuro Digital, da Escola Annenberg de Comunicação e Jornalismo da Universidade do Sul da California, estuda há uma década a relação dos americanos com a tecnologia. Compiladas, as conclusões de cada pesquisa formam um retrato do americano usuário da internet e as implicações da experiência online em sua vida.  Depois de dez anos de estudos, concluímos que as forças, assim como as consequências da tecnologia, são mais profundas do que nunca.

Em um extremo, vemos usuários com a habilidade de ter conexão social constante, acesso ilimitado à informação e poder de compra sem precedentes. No outro, encontramos demandas extraordinárias do nosso tempo, grandes preocupações sobre privacidade e questões vitais sobre a proliferação da tecnologia – incluindo uma gama de questões que não existiam há dez anos.

Acreditamos que os EUA estão passando por um grande ponto de virada digital. Vemos tremendos benefícios na tecnologia online, mas ao mesmo tempo pagamos pessoalmente um preço por esses benefícios. A pergunta é: o quanto estamos dispostos a pagar? A década de estudos sobre o futuro digital chegou a mais de 100 grandes questões sobre o impacto da tecnologia online nos EUA. Abaixo estão nove delas:

A mídia social explode – mas grande parte do conteúdo não tem credibilidade

Milhões de americanos participam diariamente de mídias sociais, mas, ao mesmo tempo, acreditam que a grande maioria das informações que encontram por lá tem pouca credibilidade. Não é novidade que a mídia social é o futuro da comunicação, mas o que ainda não é inteiramente avaliado é a falta de convicção da maior parte dos internautas na precisão das informações que encontram nas redes sociais. Em nosso estudo mais recente, 51% dos usuários disseram que apenas uma pequena porção, ou nenhuma informação que vêem em redes sociais, é confiável. E apenas 14% disseram que a maior parte ou toda a informação é confiável.

O significado de “E-Nuff Already” continua a expandir

Há cinco anos, o Centro para o Futuro Digital cunhou a expressão “E-Nuff Already” (um trocadilho com “enough” e “e-mail”, em um termo que significa “Basta, já chega”) para descrever a preocupação entre os internautas sobre o impacto do email sobre suas vidas. O termo se expandiu e hoje abrange uma crescente variedade de questões. Além do correio eletrônico, inclui muitos outros serviços e equipamentos que têm benefícios enormes para os usuários, mas também invadem suas vidas. Os americanos estão mais conectados do que nunca, mas a dominação pura da tecnologia talvez esteja atingindo um ponto crucial. Recebemos emails demais, a barragem de mensagens de texto é constante, carregamos dispositivos eletrônicos múltiplos, e novos serviços e aparelhos eletrônicos continuam a ser produzidos. Por quanto tempo será assim antes que os americanos digam novamente que basta?

O desktop está morto; vida longa ao tablet

Nos próximos três anos, o tablet se tornará  o principal computador pessoal dos americanos. O uso do desktop irá minguar a apenas 4% a 6% dos usuários de computador – restrito a escritores, gamers, programadores, analistas e cientistas – e o uso do laptop também diminuirá. O tablet é um aparelho tão convidativo! O PC é do tipo ‘incline-se para a frente’ – uma ferramenta que fica sobre uma mesa e força o usuário a ir até ela. O tablet tem um fascínio ‘recoste-se’ – mais conveniente e acessível que o laptop e muito mais atraente para usar. Para a grande maioria dos americanos, o tablet será a escolha de computador até o meio da década, enquanto o PC desaparece. Não vemos uma consequência negativa na mudança para os tablets. Mas sua dominância irá provocar mudanças em como, quando e por que os americanos se conectam à internet.

O trabalho é, cada vez mais, uma experiência “24 horas por dia, 7 dias por semana”

Os computadores pessoais e a tecnologia online ampliaram a eficiência e a produtividade no ambiente de trabalho. Entretanto, para muitos funcionários, o preço dessa eficiência é o aumento da quantidade de trabalho em suas vidas fora do escritório. Décadas atrás, pensávamos que os computadores seriam artefatos que economizariam o trabalho. É verdade que a tecnologia nos faz mais produtivos, mas com essa produtividade vêm expectativas maiores sobre como trabalhamos e quando trabalhamos.

A maior parte dos jornais impressos não existirá mais em cinco anos

A circulação de jornais impressos continua a cair, e acreditamos que os únicos jornais impressos que sobreviverão estarão nos extremos – os maiores e os menores. Nos EUA, é provável que apenas quatro dos maiores diários continuem a ser publicados em papel: New York Times, USA Today, Washington Post e Wall Street Journal. No outro extremo, sobreviverão os pequenos jornais semanais locais. A morte iminente do jornal impresso americano continua a levantar diversas questões. As organizações de mídia sobreviverão e terão sucesso quando mudarem exclusivamente para a plataforma online? Como a mudança na distribuição de conteúdo afetará a qualidade e a profundidade do jornalismo?

Nossa privacidade está perdida

Talvez este seja o maior preço pago pelo uso da internet: a perda da privacidade, em especial como resultado da crescente tendência de coleta de informações, que permite traçar um padrão do comportamento online de qualquer internauta. A questão da privacidade é simples – se você faz qualquer coisa online, sua privacidade já era! Os americanos adoram poder comprar online, buscar informações online e participar de comunidades sociais online. Mas o preço a ser pago é que somos constantemente monitorados; organizações privadas sabem tudo o que há para saber sobre nós: nossos interesses, preferências de consumo, nosso comportamento e nossas crenças. O americanos estão claramente preocupados com isso. Nosso último estudo sobre o futuro digital descobriu que quase metade dos internautas acima dos 16 anos temem que companhias monitorem o que fazem online; em comparação, 38% disseram que o que os preocupa é o monitoramento pelo governo.

O papel da internet no processo político ainda é incerto

Os estudos concluíram que os americanos acreditam que a internet é importante nas campanhas políticas e para ajudar o público a entender a política, mas a tecnologia online ainda não afeta o poder político. Ainda que o alcance online aos eleitores continue a aumentar, e a captação de recursos seja uma prioridade para os candidatos, a internet ainda não é considerada uma ferramenta que os eleitores podem usar para obter mais poder político ou influência. Acreditamos que isso está mudando, e nos próximos dois ciclos eleitorais vemos a internet se tornando um grande fator de mudança no cenário político.

A internet continuará a provocar mudanças nos hábitos de consumo, às custas do comércio tradicional

O mais recente estudo sobre o futuro digital concluiu que 68% dos americanos fazem compras online, e 70% dos compradores online disseram que, ao comprar na internet, compram menos em lojas físicas. Estamos vendo apenas o começo da mudança nos hábitos de consumo dos americanos por causa da internet. Daqui a cinco anos, o cenário tradicional de compras será completamente diferente de como é hoje.

O que virá a seguir?

Em 2006, o YouTube e o Twitter tinham acabado de nascer, e o Facebook era uma criança. Meio século atrás, quem pensaria que essas tecnologias nascentes se tornariam o padrão para a comunicação social em 2011? A próxima grande tendência online está sendo desenvolvida neste momento por um novo grupo de visionários da internet esperando para ser ouvidos.

* Diretor do Centro para o Futuro Digital