Consumo de energia: um sistema de controle inteligente

Por Kevin Bullis*

Um sistema inteligente de controle de energia pode mudar fundamentalmente o modo como as pessoas pagam e controlam a eletricidade que utilizam. Na teoria, a tecnologia pode ajudar a reduzir a demanda, poupar dinheiro e aumentar a confiabilidade e a eficiência. Mas isso exige mudanças tanto na atitude dos fornecedores quanto dos consumidores de energia, como ficou claro no evento Global Research, da empresa General Electric, realizado na semana passada em Nova York.

    Os especialistas ali presentes acham que haverá resistência das duas partes, diante da complexidade do sistema e também das preocupações com segurança e privacidade. O que vem sendo chamado de smart grid pretende incorporar novas tecnologias de rede, incluindo sensores e controles que permitam monitorar o uso dos equipamentos em tempo real e fazer automaticamente as mudanças que reduzam o desperdício de energia.

    Os operadores do sistema deverão ser capazes de detectar os problemas instantaneamente, antes que se propaguem em cascata, o que freqüentemente resulta nos já conhecidos apagões. As companhias de energia terão que adotar novas fontes de eletricidade renovável, como turbinas eólicas, para manter em funcionamento as redes mesmo diante do aumento repentino da demanda.

    Para o consumidor, o smart grid pode significar mudanças radicais no modo de pagar sua conta de luz. Em vez de uma taxa fixa, eles serão cobrados conforme o uso, o que é uma forma de desencorajar o desperdício. Fabricantes como a GE estão desenvolvendo refrigeradores, aquecedores e outros eletrodomésticos que poderão responder automaticamente a sinais de uma central de controle, de modo que diminuam o consumo para não extrapolar um limite pré-estabelecido pelo usuário.

    Essas estratégias podem permitir que as operadoras construam novas linhas de transmissão e geradores que entrem em ação nos momentos de pico. E isso será ainda mais importante com a introdução de medidas para redução das emissões de dióxido de carbono, pois isso certamente obrigará ao uso de fontes energéticas mais caras.

    Gary Brown, diretor do Departamento de Serviços Públicos do Estado de Nova York, acha que é preciso ter cautela com esse tipo de inovação. Ele lembra que nos anos 90 um projeto de lei que implantava cobrança pelo consumo variável de energia foi barrado na Assembléia Legislativa estadual para não prejudicar, por exemplo, pessoas que necessitam usar equipamentos médicos 24 horas por dia – mesmo nos momentos de pico.

    Outro problema para a implantação do smart grid é que as medições são mais complicadas. Eficência e confiabilidade são valores que não podem ser medidos, argumentam os adversários da idéia. Exatamente por isso, em alguns estados americanos estão sendo conduzidas demonstrações do sistema, para que as pessoas possam enxergar seus benefícios.

    E há ainda a questão da segurança, com lembra Bob Gilligan, vice-presidente da GE: “Já ouvimos muito sobre ameaças terroristas contra nossa infraestrutura energética. Quando falamos em incorporar mais fontes de energia a nossas redes, aumentam as preocupações sobre como proteger essa infraestrutura”. Gilligan lembra ainda que alguns usuários não querem que seu consumo seja monitorado da forma como propõe o projeto dos smart grids, considerando isso uma espécie de invasão de privacidade.

    Outros especialistas acrescentam que há também um problema prático: uma operadora média nos EUA hoje trabalha com 30.000 dispositivos para monitorar uma rede de 5 milhões de medidores. Com mais e mais informações chegando a cada medidor, essa capacidade terá de ser expandida milhares de vezes. Há, porém, aqueles que enxergam aí uma excelente oportunidade de investimento e criação de empregos: será preciso criar novos aplicativos de monitoramento, principalmente se for adotado um padrão aberto, com a participação de desenvolvedores.

    De qualquer modo, os consumidores não precisam se preocupar com esse problema por enquanto. Será necessária pela menos uma década até que seja instituído um sistema de cobrança monitorada do consumo. Enquanto isso, as redes atuais podem ser aprimoradas sem afetar o dia-a-dia dos cidadãos. Já existem, por exemplo, métodos para reduzir a quantidade de energia desperdiçada na transmissão do gerador para as residências: entre 7% e 10% se perde nesse processo, chegando a 30% em períodos de pico.

    Mas nenhum dos participantes do encontro na semana passada tem dúvidas: a longo prazo, os smart grids representam uma forma muito mais eficiente de distribuir energia e reduzir o consumo. “E também de tornar a energia mais barata para todos”, conclui James Gallagher, vice-presidente do Departamento de Desenvolvimento da Prefeitura de Nova York. 
 
*Publicado originalmente na revista Technology Review, do MIT, em 17/07/09