Por que a TV 3D não vai dar certo

Por Jason Bovberg

Quanta diferença em menos de um ano! Saímos de toda a badalarão em torno de Avatar, a superprodução de James Cameron, para o fracasso de Jackass, um dos últimos lançamentos em cinema 3D. No final de 2009, quase todo mundo, principalmente os fãs de home theater, estava entusiasmado com as perspectivas da tecnologia 3D, no cinema e em casa. Mas, exatamente como aconteceu na década de 1980, esse entusiasmo se transformou em tédio. E isso tem muito a ver com a superexposição e o mau entendimento do que essa tecnologia representa.

Depois do lançamento perfeito (em termos de marketing) de Avatar, os gananciosos estúdios viram a chance de transformar filmes que estavam em produção pelo sistema convencional (2D) em espetáculos 3D, usando para isso um mal cuidado processo de pós-produção chamado “dimensionalização”. O resultado foram experiências horríveis para as platéias, com imagens escuras, borradas e provocando dores de cabeça. O público sentiu-se roubado, tendo que pagar mais caro, e começou a não querer voltar mais ao cinema, principalmente nos EUA, onde a economia em geral não vai nada bem.

O primeiro filme “traidor” dessa série foi Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton. Mas a coisa piorou com Duelo de Titãs, O Último Mestre do Ar e Piranha 3D – todos fracassos de bilheteria. Mesmo se considerarmos os filmes originalmente feitos em 3D, a porcentagem de espectadores que preferiram vê-los em 2D foi expressiva. Falo de Como Treinar Seu Dragão (68% das pessoas viram em 3D), Toy Story 3 (60%) e Meu Malvado Favorito (apenas 45%). Jackass 3D até que estreou bem, no último fim de semana, mas todo mundo está percebendo que aqueles efeitos não passam de truques.

Se é assim nos cinemas, mais complicado ainda será levar a experiência 3D para dentro de casa. Para ver um filme, você precisa – além do TV, é claro – de um óculos para cada membro da família. Cada óculos custa em torno de 100 dólares. Se pensarmos que é necessário ter alguns a mais, para as visitas, dá para calcular que essa experiência não sai por menos de 3 mil dólares, só para começar. A Toshiba acaba de anunciar TVs 3D sem óculos no Japão, mas será que o público irá se convencer?

Quando vejo uma demonstração de TV 3D numa loja, percebo as pessoas mais ou menos interessadas. Mas a maioria acaba indo embora sem comprar. É fácil de explicar: apesar de toda a tecnologia envolvida, a experiência do 3D no cinema pouco acrescenta de memorável. Está claro que os estúdios e os cineastas não sabem ainda como usar esse recurso. E a maioria dos críticos simplesmente abomina.

Segundo uma pesquisa recente da DisplaySearch, apenas cerca de 1,6 milhões de TVs 3D serão vendidos este ano – 2% do total. Mais curioso ainda, a pesquisa revela que, pelo menos na Europa, as lojas estão vendendo menos de um óculos para cada televisor – ou seja, os consumidores estão comprando TVs 3D, mas não os estão usando para ver conteúdos em 3D.

Sim, o conteúdo é um grande problema. Simplesmente não existe. É só comparar com a transição da TV analógica para a alta definição. Ninguém questionava que valia a pena. Toda a História do cinema foi construída sobre alta definição, e os novos TVs apenas permitiram acesso a algo que já existia – milhares de filmes prontos, que você podia escolher à vontade. No caso do 3D, temos poucos filmes; aliás, pouquíssimos bons filmes. Se eu tivesse um TV 3D, acho que gostaria talvez de ver Avatar e mais alguns clássicos que fizeram minha cabeça, por exemplo, nos anos 80. Talvez alguns desenhos animados, e nada mais.

Por tudo isso, acho que o potencial do 3D em casa é muito pequeno. Nos cinemas, será apenas moda passageira. Talvez você seja daqueles telespectadores que gostam de esportes e documentários, gêneros que sem dúvida trazem mais benefícios para ver em 3D. Mas me pergunto qual será o apelo de, após ver alguns lances de futebol, continuar usando aqueles óculos por horas e horas. Mesmo que no futuro tenhamos 3D sem óculos, me parece que será mais uma distração do que propriamente um benefício. São efeitos engraçados, nada mais do que isso, nada que melhore a experiência artística.

Publicado na Sound&Video Contractor, em 18/10/2010