O que é preciso saber sobre cloud computing

Todos os dias, o mercado é bombardeado por estudos, análises, eventos e propagadas voltados a discutir a cloud computing (computação em nuvem). Mas, ao analisar o conteúdo dessas mensagens, fica evidente que elas são, em muitos aspectos, contraditórias e raramente apresentam qualquer afirmação concreta.

Para começar, é necessário deixar claro que computação na nuvem não representa uma tecnologia e, sim, um modelo de TI. Em linhas gerais, a nuvem tem como base serviços e não produtos, propriamente ditos, baseados nos seguintes princípios:

– Infraestrutura compartilhada. Vários clientes dividem uma mesma plataforma tecnológica, o que inclui até uma mesma instância de determinado aplicativo;

– Os serviços são requisitados on demand (sob demanda), seja por número de usuários, transações ou a combinação entre vários itens;
– Os serviços são escalonáveis. A partir da perspectiva do usuário, existem uma flexibilidade de requisitar uma ampliação das ofertas, sem qualquer limitação;

– Precificados com base no uso. A computação na nuvem tem como prerrogativa a cobrança pelo serviço utilizado em um determinado período;

– Dois modelos. Apesar de os serviços poderem ser acessados em qualquer local, independentemente do dispositivo, a cloud computing está hoje separada em duas principais modalidades: nuvem pública e nuvem privada. No primeiro caso, trata-se de um ambiente que oferece serviços de TI a qualquer pessoa conectada à internet. Já o modelo particular serve a um grupo pré-definido de usuários, que acessam os serviços via VPN ou pela web.

Tipos de serviços na nuvem

Para entender a fundo o conceito de cloud computing, vale ficar atento a quais os serviços de TI que podem ser prestados por meio da nuvem. Na prática, eles pode ser divididos em três grandes grupos:

1. IaaS (Infraestrutura como serviço) – provê o ambiente de processamento (servidores, armazenamento, balanceamento de cargas, firewalls, entre outros). Os serviços podem ser implementados por meio de diversas tecnologias, sendo virtualização a mais comum delas.

2. PaaS (Plataforma como serviço) – tem como prerrogativa entregar serviços ligados a aplicativos e a desenvolvimento. Outras soluções, como autenticação, autorização de acessos, gestão de sessões e de metadados também integram o PaaS.

3. SaaS (Software como serviço) – é a modalidade mais complexa do uso da nuvem. O software contratado serve funcionalidades que devem atender aos problemas dos usuários, sejam esses indivíduos ou empregados de empresas. Entre os exemplos de SaaS oferecidos atualmente encontram-se: BI, conferências virtuais, serviço de email, suítes de automação de escritórios e automação de processos comerciais.

Principais problemas

Por conta do fato da cloud computing ser ainda uma modalidade bastante recente, ela conta com questões não resolvidas e para as quais os potenciais usuários precisam ficar atentos. Quando as empresas optam pela nuvem devem estar cientes dos riscos em relação à forma, ao momento e à aplicação dessas ferramentas pelas áreas de TI.

A computação em nuvem ainda tem problemas por falta de uma retaguarda legal, de modelos contratuais e de controles adequados. O modelo também falha por dificultar processos de auditoria de segurança e de regulamentação dos dados para backups e das informações hospedadas na nuvem. Interfaces para a integração adequada entre os serviços da nuvem e aqueles hospedados nas empresas completam a lista de deficiências do modelo de cloud computing.

Os gestores de TI, no entanto, precisam analisar o projeto de adoção da computação em nuvem como qualquer outra iniciativa ligada à área de tecnologia. Isso exige um processo de avaliação dos riscos e dos benefícios, uma plano bem estruturado para implementação e uma estratégia de aperfeiçoamento contínuo.

Mudança na cadeia

E, se a computação na nuvem representa uma nova opção para os usuários, por outro lado ela também demanda significativas mudanças por parte dos fornecedores de produtos e serviços de TI. Empresas de hardware, de software e de serviços terão de enfrentar dois desafios simultaneamente: desenvolver ou em adaptar os produtos, os processos e as ferramentas para esse novo modelo; e alterar as estruturas de suporte e, em alguns casos, definir um novo público-alvo.
No caso de organizações que fornecem software e hardware essenciais, a tarefa está em interpretar a mudança do perfil das empresas que consomem a TI. Isso porque, com cloud, os grandes compradores de tecnologia deixam de ser os principais setores do mercado (finanças, indústria e governo). Em seu lugar, ganham espaço os fornecedores dos serviços.

Por outro lado, os prestadores de serviços de TI terão de se adaptar aos novos serviços, por meio de uma nova plataforma, modelos comerciais de entrega e cobrança on demand, entre outros. Face à complexidade e às mudanças que se desenvolvem no horizonte, estar preparado para iniciar as operações no ambiente da nuvem e ter de abortar essa migração é algo com que se deve contar. Logo, dividir o plano de subida rumo à estratosfera digital requer entendimento de cada um dos passos e dos desafios envolvidos. Calcular os riscos? Sim. Mas é importante partir para a ação.

Publicado na Network World, em 05/07/2010