No mundo inteiro, os governos buscam formas de socorrer empresas afetadas pela crise financeira. Cada país escolhe a melhor maneira de fazê-lo. Na Inglaterra, por exemplo, o primeiro-ministro Gordon Brown fez um plano bilionário de ajuda, mas incluindo contrapartidas. Uma delas: vai aumentar a fiscalização sobre o modo como as empresas são administradas. Quem quiser se beneficiar do dinheiro público terá que abrir suas contas. Também terá que acabar com as mordomias concedidas aos executivos, cujos salários e bônus astronômicos são vistos como uma das causas dos estouros orçamentários que levaram à crise.

Bem, isso é lá na Inglaterra. E por que estou mencionando o assunto neste espaço, que não trata de economia? É que uma reportagem no Estadão de hoje ilustra bem a forma como “este país” resolve suas crises. Diz o texto que o presidente da operadora Oi, Luiz Eduardo Falco, quer ajuda do governo para pagar as licenças do sistema 3G que a empresa deve à Anatel. Você não leu errado. Depois de conseguir cerca de R$ 12 bilhões do BNDES e do Banco do Brasil para adquirir o controle da Brasil Telecom, a Oi não tem dinheiro para pagar a primeira parcela do negócio (no valor de R$ 450 milhões), que deve ser saldada até 21 de dezembro, sob o risco de melar a fusão. E agora diz que também não tem como pagar as licenças 3G.

Não é incrível? Na verdade, Falco defende – juntamente com a ACEL (Associação Nacional das Operadoras de Celulares) – um adiamento de 18 meses no prazo para pagar as licenças, adquiridas há quase um ano, e cujo pagamento deveria ser feito também agora em dezembro. Segundo o Estadão, com exceção da Claro, que pagou suas licenças à vista, as demais operadoras devem juntas, à Anatel, um total de R$ 3,5 bilhões. Vejam o argumento de Falco: “A crise que estamos passando é só de curto prazo. O governo tem ajudado as indústrias dando liquidez.  Isso não é diferente do que estão fazendo com as empresas automotivas, ou com o compulsório dos bancos”.

As empresas de celular, que estão entre as que mais ganharam dinheiro no País nos últimos anos e (é sempre bom repetir) estão entre as campeãs de reclamações no Procon, devem achar que existe um poço sem fundo, de onde sempre é possível tirar mais dinheiro. Se a Anatel não prorrogar o prazo, ameaçam as operadoras, o caminho será recorrer ao BNDES, de novo – e o pedido para isso já está no Ministério da Fazenda. Como a Oi é apadrinhada do governo federal, conta com mais essa forcinha. Vamos ver o que dizem o banco e o ministro.

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