Cansada dos prejuízos acumulados nos últimos meses, a direção da Panasonic no Japão tomou uma decisão radical: vai entrar na guerra de preços contra seus concorrentes chineses, coreanos e indianos. A notícia saiu esta semana no insuspeito The Wall Street Journal, sem merecer muita atenção; a ser confirmada, será um marco na indústria eletrônica: até hoje os fabricantes japoneses vêm evitando a todo custo essa competição desenfreada, em que o fator preço torna-se o principal impulsionador de vendas, muitas vezes em prejuízo da qualidade.
Diz o jornal que, diante da recessão japonesa, a Panasonic agora aposta nos chamados mercados emergentes: Rússia, Brasil, Turquia, Indonésia, China, México, Nigeria e os países mais pobres da própria Ásia. Nesses mercados, raciocinam os executivos da empresa, recursos avançados e design sofisticado não contam muito; vale mais o preço! O plano é reduzir o número de componentes dos produtos, cortar custos de desenvolvimento, desenhar e fabricar localmente. “Vamos ter que mudar totalmente a forma como pensamos os produtos”, admite Hitoshi Otsuki, diretor da divisão internacional do grupo. “É impossível competir apenas com idéias desenvolvidas no Japão ou com design japonês”.
Dentro desse novo esquema, a filial brasileira, por exemplo, ganharia mais poderes para desenvolver aqui mesmo os produtos destinados ao País – e até mesmo terceirizar o design, quando for o caso. Sairia mais barato do que pagar os altíssimos salários japoneses. Pelos cálculos da Panasonic, os mercados emergentes somados deverão ser maiores do que EUA e Europa, por volta de 2013. Depois de dois anos consecutivos de prejuízo, esta pode ser uma boa estratégia a longo prazo. O problema, como lembra um analista de mercado citado pelo jornal, é: “Você pode destruir toda a sua rentabilidade antes de obter qualquer lucro”.
Ou seja, é uma aposta arriscada.