De volta ao Brasil, descubro que escapei por pouco: horas antes de meu avião pousar em Cumbica, havia desabado o mundo sobre a capital paulista. Tive sorte. Hoje, quarta-feira, o tempo está nublado, mas pelo menos – toc… toc… toc… – sem enchentes. Mesmo chegando no aeroporto às 5h20 da manhã, ainda encarei mais de uma hora de trânsito intenso até chegar em casa. Como vêem, estou retomando as atividades “normais”.

Não sou de ficar me lamentando por essas coisas (há problemas muito mais sérios), mas não dá para evitar um certo desânimo. Em Berlim, cidade com 1,5 milhão de habitantes e cheia de obras, principalmente no lado leste (onde eu estava), andei a pé ou de trem o tempo todo e consegui chegar relativamente rápido nos lugares. Um ou outro mendigo na rua, talvez drogado, mas no geral uma sensação de bem-estar e liberdade que não consigo ter em minha própria cidade. A questão do trânsito apenas agrava o fato de que vivemos, aqui, numa desordem absoluta, com valores invertidos e atitudes pervertidas! Não, não me refiro “àquilo”. Falo da perversão que é uma sociedade dividida como a nossa: de um lado, aqueles que querem levar vantagem em tudo (até mesmo nas coisas mais banais, como roubar uma vaga de estacionamento de alguém que chegou primeiro); e, de outro, os acomodados, os alienados e os insensíveis, a turma do “fazer o quê? A vida é assim mesmo”. Não vou nem falar de governo e políticos, porque esses só fazem o que fazem com a conivência geral.

É triste voltar para o seu país com esse tipo de sentimento. Enquanto lá em Berlim eles comemoram a liberdade (o aniversário de 20 anos da queda do Muro, como comentei aqui outro dia), no Brasil ninguém parece se lembrar que há menos tempo (17 anos atrás) um presidente corrupto foi tirado do poder após um grande movimento de rebeldia civil, simbolizado nos jovens “caras-pintadas”. Um corrupto que está de volta, alegre e pampeiro, com as bênçãos dos atuais donos do poder.

E lá fora um outro temporal ameaça desabar.

Imagens das duas cidades ontem: separadas por um abismo de perversão:

enchenteP1100047

3 thoughts on “O céu de Berlim e as águas de São Paulo

  1. Orlando, parabéns pela excelente cobertura do evento. Tuas coberturas são sempre garantia de informações com qualidade e conteúdo crítico. Abraço.

  2. Orlando, estou aqui em Atlanta participando da CEDIA e o que voce falou e’ a plena verdade, brasileiro nao se respeita. Aqui tudo funciona maravilhosamente bem, o metro chamado MARTA e’ excelente (diferente da homonima dai de SP), o transito e’ muito civilizado, voce ve pouquissimas pessoas andando na rua e se sente seguro em qualquer lugar e, mais importante, a cidade e’ limpissima e os veiculos respeitam o transeunte como em nenhum lugar no mundo. Voce ainda esta’ na calcada e o motorista que vem vindo ve sua intencao de atravessar a rua e ja’ para o carro. E’ impressionante!!! Passarao ainda muitas geracoes antes que a mentalidade mude no nosso pais. E o exemplo que vem de cima nao e’ nada animador!!!

  3. Sou consumidor de tecnologia e aqui me sinto em casa, tamanha quantidade de novidades.
    E quanto ao uso de trens ou mesmo andar pelas ruas da europa, tem mesmo um sabor de liberdade aliada a seguranca.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *