Nos últimos três dias, fomos bombardeados pelas comemorações em torno da “Olimpíada no Brasil”, vendida como mais uma vitória do País e salvação para praticamente todos os nossos males. Tudo bem. Marketing é exatamente isso: saber aproveitar as oportunidades que aparecem. De repente, o País se dividiu entre os “baba-ovos” – para quem finalmente o mundo está se curvando diante da nossa força (!!!) – e os eternos insatisfeitos – para quem tudo não passa de pura enganação. Vale refletir sobre as duas posições.

Vejam o que escreveu na Folha de S.Paulo o advogado Alberto Murray Neto, membro do Tribunal Arbitral do Esporte, que tem sede na Suíça: “Se alguém acha que daqui a sete anos o Rio estará livre dos traficantes de droga e dos tiroteios, que o trânsito será fantástico, que haverá hospitais de qualidade, escolas públicas de excelente nível para todas as crianças, praças esportivas populares espalhadas pela cidade, pessoas morando condignamente, só para citar alguns exemplos, escolha uma bela praia e espere deitado. Para não se cansar”.

Pelo visto, Lula acha. Tanto que já decretou que até 2016 as favelas cariocas só terão casas feitas de alvenaria… Murray ironiza com esta pérola final: “Olimpiator Tabajara”, seus problemas acabaram. O Nuzman agora vai virar o “Seu Creysson”.

Na linha oposta, cansei de ler neste fim de semana jornalistas saudando a escolha do Rio como um reconhecimento ao potencial brasileiro para realizar grandes eventos internacionais. Um deles chegou a este ponto: “O Rio já provou no Pan que pode sediar eventos de grande porte. Foi um sucesso. Se houve problemas de desvio de dinheiro, isso é outra conversa”.

Pois é, outra conversa. Não consigo me alinhar com nenhum dos dois extremos, embora esteja mais para o primeiro. Já vimos nos jornais e revistas dos últimos dias a quantidade de empresas que pretendem faturar em cima do projeto Rio 2016, com as bênçãos de um governo que (como todo mundo sabe) não tem por norma fiscalizar os gastos públicos (é bom lembrar: gastos com o “nosso” dinheiro). Mas vamos tentar ser otimistas. O Brasil entrou, sim, na pauta dos grandes investidores internacionais, até por falta de opção (deles, investidores). Nosso mercado interno é gigantesco e nossa infraestrutura é ridiculamente precária. Ou seja, tem muito consumidor para ser conquistado e um país inteiro para ser construído. Isso terá de acontecer de uma forma ou de outra, com ou sem Olimpíada. Só que não irá acontecer em sete anos, nem em dez ou quinze, e há um enorme risco de os amigos do poder levarem o cofre para casa.

Mero palpite: podemos estar viajando 50 anos para trás no tempo, como nossos antepassados diante do sonho da construção de Brasilia. Mobilizou o País, atraiu investimentos, estimulou a roubalheira. E estamos pagando a conta até hoje.

3 thoughts on “Bombardeio de marketing

  1. Também sou extremamente cético, Orlando. Olimpíadas com Sarneyzão urubuzado lá na Presidência do Senado, e Lula beijando a mão do safado… Me engana que eu gosto!

  2. Caro Orlando,

    Bastante oportuno seu post. Nascido e criado no Rio, me envergonho profundamente das escolhas e caminhos tomados pelo povo desta cidade. A então “Cidade Maravilhosa” sofre com essas escolhas totalmente equivocadas e, como se não bastasse, tem um povo completamente desprovido de valores comunitários. A mobilização pela festa, pelo carnaval, pelas breves chances de ficar sem trabalhar me enojam. Enquanto isso, entra governo, sai governo, e as pessoas não só ignoram as obrigações dos políticos que pouco ou nada fazem, mas também suas obrigações como cidadãos. É claro que isso não é problema exclusivo do Rio, mas posso concluir, pelas minhas andanças por este mundo afora que a coisa aqui é um tantinho pior…

    Quem mora aqui e não está contaminado por este ufanismo nojento conhece bem o legado do PAN para a cidade. Tudo foi feito a toque de caixa, em cima da hora. Contratos emergenciais, operação “tapa-buracos”, faixas de ônibus “exclusivas” para substituir o metrô que não foi construído. Inúmeras denúncias de corrupção envolvendo as mesmas pessoas que estão ai, comemorando 2016. Os sorrisos falsos mal conseguem esconder o cinismo, a escolha pelo enriquecimento fácil e pelo favorecimento dos amigos, empreiteiras, partidos… O que era para custar 800 milhões saiu por módicos 4 bilhões. O TCU finge que investiga, nós fingimos que acreditamos. E entregam a chave do galinheiros para os mesmos lobos da Rio 2004.

    Não há planos definidos para as Olimpíadas 2016, para a Copa de 2014, para o Brasil, afinal. Há uma série de projetos desencontrados, que tem como objetivo enriquecer os velhos e novos detentores do poder.

    Como sou um daqueles “que rema contra a maré”, como dizem os ufanistas de plantão, só me resta levar adiante meus planos de ir embora. Minha indignação atingiu níveis que afetam minha saúde e as tentativas de mobilização só afetam uns poucos, que, como nós, lamentam que o Brasil de 2009 escolha os mesmos caminhos tortuosos, as mesmas práticas deploráveis, os mesmos projetos desconexos e equivocados. Por isso já cheguei a conclusão que, pelo menos para mim, a saída está no Galeão… Sim, aquele mesmo, sujo, desorganizado, administrado pela maravilhosa Infraero e taxado, por nosso governador, como um dos melhoes do mundo. Logo ele, que é figurinha fácil nos melhores aeroportos da Europa.

    Abs

    Julio

  3. Nossa esperança que o novo governo que assumirá em 2010, seja melhor(é claro , se não for da mesma cor pártidaria do atual).Que um novo “tecnico” do Brasil assuma e ponha pra rua todos os “jogadores ” fajutos que em última análise fomos nós que os colocamos lá pra jogar com o nosso dinheiro. O Nuzman poderá talvez jogar no salto em altura, haja visto o pulo que deu na hora do anuncio da cidade vencedora. Foi uma comemoração fora do normal…..Bem, normalidade é o que não existe em nosso País….

    Tchau..
    Adelino

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