Se alguém aí está reclamando da “crise” brasileira, talvez seja bom abrir os olhos para o que acontece nos mercados mais maduros. A última pesquisa do Instituto Gartner, um dos mais conceituados dos EUA, mostra que o chamado fundo do poço já pode ter sido atingido, mas não se sabe quanto tempo irá levar até que se consiga sair dele.

placa mãe2O Gartner, através de seu grupo dedicado a analisar o segmento de semicondutores, realizou um estudo mundial, englobando os mercados de América do Norte, Europa, Ásia e China (esse país é tão impressionante que todas as pesquisas o colocam separado da Ásia). A análise cobre setores ligados à produção e venda de semicondutores para aparelhos eletrônicos de consumo, divididos em três categorias: informática, celulares e áudio/vídeo. E a conclusão foi de que começam a aparecer sinais de recuperação, após a violenta crise iniciada no final de 2008. “Mesmo assim, ainda estamos lá embaixo”, advertiu o vice-presidente do Gartner, Klaus Rinnen. “Recuperação, mesmo, só em 2010”.

Detalhando por setor as previsões do Instituto, que ainda não conseguiu enxergar efeitos das políticas de estímulo adotadas por quase todos os governos:

Computadores – O pior momento foi no início de 2009, quando não apenas os consumidores deixaram de comprar, mas principalmente as empresas suspenderam investimentos em T.I. A situação agora é um pouco melhor, mas crescimento de verdade só está previsto para o último trimestre de 2010.

Celulares – Também chegou ao fundo do poço no começo do ano, mas vem se recuperando um pouco mais rápido, graças principalmente aos smartphones e à expansão da demanda na China. Deve ser o primeiro setor a se recuperar.

Áudio & vídeo – Apesar do crescimento em TVs LCD e Blu-ray, o setor como um todo estagnou em 2009. Deve ter pequeno crescimento na metade do ano que vem, mas para voltar aos níveis pré-crise vamos ter que esperar 2011.

Evidentemente, o Brasil não entrou nessa pesquisa. O que, a meu ver, é um erro devido à posição atual do País no mundo. De qualquer forma, se entrasse, distorceria os dados: o que acontece aqui tem pouco (ou quase nada) a ver com os relatos vindos do Primeiro Mundo. Há algumas semanas, o jornal O Estado de S.Paulo ouviu especialistas de diversas áreas para fazer um prognóstico sobre 2010, e o resultado foi quase unânime: crescimento de no mínimo 5%. Entre os fatores apontados: Copa do Mundo, aumento do crédito, juros em queda e a – como definiu o jornal – “gastança” do governo federal. Acrescento mais dois fatores: eleições e aumento dos investimentos estrangeiros.

No caso específico do setor eletrônico, a previsão oficial da Eletros (não sei até que ponto confiável) é de que as vendas de TVs de plasma e LCD aumentarão 70% este ano, na comparação com 2008. Os números: no ano passado, foram vendidos 2,72 milhões de TVs desse tipo; de janeiro a julho deste ano, 1,86 milhão. Mantida a proporção, passaremos fácil dos 3 milhões até o final do ano. Pelo que apurei, quase 80% desse total será de LCDs. Não conheço estatísticas sobre Blu-ray, mesmo porque a quantidade de players que entra informalmente no País é incalculável. Mas, considerando que os TVs representam mais de metade do faturamento da indústria (e ressalvando que o segmento de áudio continua em baixa), dá para estimar um crescimento global perto de 15%, o que seria extraordinário.

Não é à tôa que um amigo brasileiro que mora nos EUA está pensando em voltar e procurar emprego aqui. Lá o poço é bem mais fundo!

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