Confesso que fiquei surpreso com o debate que os leitores vêm travando através deste humilde blog, a respeito da mudança de padrão de conexões elétricas. Os comentários que coloquei aqui (“A novela do novo plugue elétrico” e “Campeão de Audiência“) parecem ter despertado nas pessoas um misto de revolta e vontade de fazer alguma coisa para impedir o que a maioria considera uma aberração. Ótimo. Uma das propostas deste blog é justamente fazer pensar; outra é que todos aprendam a reclamar civilizadamente e a lutar por seus direitos. Isso tudo tem a ver com o velho e desgastado conceito de “cidadania”, que muita gente esquece de praticar.
Um leitor sugeriu um abaixo-assinado para ser enviado aos órgãos responsáveis pela mudança no padrão elétrico. Acredito que este não é o espaço adequado para manifestações desse tipo, mas com certeza dou todo o meu apoio à iniciativa. O mínimo que ABNT, Inmetro, Conmetro e demais repartições oficiais podem fazer, em respeito à sociedade, é abrir canais de comunicação para ouvir as queixas de quem se sente prejudicado, coisa que deveria ter sido feita desde anos atrás, quando a mudança começou a ser estudada.
Outros leitores defendem o novo padrão utilizando principalmente dois argumentos: é mais seguro e está de acordo com as normas internacionais estabelecidas por entidades como a IEC (International Electrotechnical Commission), que formula as normas para fabricação e uso de aparelhos elétricos e eletrônicos. Um deles até lembrou, corretamente, que a IEC firmou em 1986 um padrão de conexões semelhante ao que o Brasil propõe agora, com o objetivo de transformá-lo em “padrão universal”. Há ainda quem chame os leitores que criticam (e por extensão este blogueiro) de desinformados, ou de estarem discutindo com emoção um tema que é puramente técnico.
Considero todos esses argumentos válidos. A meu ver, o problema – como, aliás, bem lembrou outro leitor – é quando se tenta impor uma mudança sem ouvir aqueles que serão afetados por ela. Embora alguém diga que houve “ampla divlgação”, tenho que retrucar que não é verdade. Entre dezenas de leitores que se manifestaram aqui, somente um diz ter visto os tais anúncios na televisão falando sobre o novo conector. Isso, num país em que todo mundo vê televisao! A menos que tenha sido exibido numa das emissoras educativas… Aí, não vale, certo? Nas declarações que ouvi e li até agora do pessoal do Inmetro, não houve qualquer referência a essa campanha. Evidentemente, esse é um assunto técnico e que tinha mesmo de ser tratado por especialistas. Estes, porém, por mais competentes que sejam, não tinham nem têm o direito de tomar a decisão sem trazer a questão a público – por exemplo, como faz a Anatel com suas consultas públicas via internet. Corrijo aqui esta observação: a ABNT também faz consultas públicas. A maior falha é do Inmetro, que – ao contrário do que determinou a Norma da ABNT – não divulgou a mudança como deveria.
O argumento de que o novo padrão é mais seguro terá de ser provado na prática. Até porque, embora sugerido pela IEC, poucos países o adotaram. Como bem lembrou o colega Vinicius Barbosa Lima, o Brasil é um dos poucos países cujas tomadas são compatíveis com praticamente todos os plugues usados no mundo. E o novo padrão não é compatível sequer com o que se produziu (e certificou-se via Inmetro) no próprio Brasil durante décadas.
Enfim, não há outra palavra para definir tudo: uma aberração.
