Fiquei na semana passada meio por fora do noticiário nacional. Quando retomei, eis que o assunto da hora é mais um escândalo. Ou vários escândalos que se sobrepõem, tendo como pano de fundo as eleições de outubro e o plano de banda larga do governo. Na prática, é apenas mais um item no longo currículo (talvez fosse melhor dizer “prontuário”) do ex-ministro José Dirceu. Lembro que comentei o assunto aqui pela primeira vez há quase um ano. Na época, o escabroso caso da Eletronet – estatal do setor elétrico que só não faliu porque, pela lei, uma estatal não pode ir à falência – ainda era pouco abordado pela imprensa. Mas já estava claro que iria estourar, cedo ou tarde.

Agora, recolhendo as notícias da semana, encontro várias a respeito. A partir daquela denúncia da Folha de S.Paulo (que comentei aqui) sobre a valorização de 35.000% nas ações da Telebrás, surgiram várias outras. Quem tiver interesse, é só digitar a palavra mágica “Telebrás” no Google e vai aparecer uma sucessão de notícias tenebrosas – embora nada surpreendentes. Fica claro que está em curso na mídia uma guerra de notícias, nem todas verdadeiras, e algumas francamente exageradas, ligando essa questão com o futuro das candidaturas presidenciais de Serra e Dilma. E vejam que curioso: o governo Lula, que em seus quase oito anos mal deu atenção ao setor de telecomunicações (vide o estágio atual dos serviços prestados pelas operadoras e o atraso nos leilões da Anatel), descobriu que a banda larga pode render votos. E agora se empenha para ganhar essa “guerra de mídia”.

Sinceramente, não sei até que ponto interessa ao público saber os detalhes dessa disputa, em que, claramente, ninguém (ou muito poucos) está preocupado com os destinos do País. Mas me chama atenção o fato de José Dirceu, que saiu do Palácio do Planalto pela porta dos fundos, foi cassado e responde a processo na Justiça por formação de quadrilha, continuar dando ordens no governo. Já se sabia, desde a sua demissão, que Dirceu trabalhava para o empresário Eike Batista, usando para isso seus contatos dentro do governo e até no Exterior (contatos que obtivera enquanto ministro). Só isso já seria escandaloso. Sabia-se também de sua amizade com o empresário Nelson dos Santos, que ganhou de presente – pagando a fortuna de R$ 1 (isso mesmo: 1 real) – toda a rede de fibra óptica da Eletronet. Agora, as ações de Dirceu nos bastidores para levar o governo a recomprar essa rede passam de todos os limites, não?

Infelizmente, vamos ter que continuar falando dessa gente. De preferência tapando o nariz.

1 thought on “Escândalo pouco é bobagem

  1. Para seu conhecimento: Os petistas tetaram desmentir usando para isto o Blog de um famoso soldadinho do ParTido: Luiz Nassif. Mas logo depois o desmentido foi desmentido pelo próprio José Dirceu (conhecido no tempo da guerrilha como Zeca Diabo). O deputado cassado publicou em seu blog o que chamou de “uma síntese dos esclarecimentos” sobre as denúncias envolvendo a Eletronet. O ex-ministro afirma que não recebeu “uma bolada de R$ 620 mil” do empresário Nelson dos Santos, principal acionista privado da Eletronet, “mas sim R$ 20 mil mensais, durante 31 meses de trabalho prestado, o que demandou viagens, reuniões e muita preparação”. “É trabalho, não é dinheiro fácil”, ressalta!

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