Um dos espetáculos mais deprimentes da atualidade no Brasil é a disputa pelo imposto sindical, uma bolada que segundo alguns especialistas soma mais de R$ 2 bilhões. Sim, é aquele dinheiro que sai compulsoriamente do salário de quem trabalha e vai direto para o caixa dos sindicatos. Reportagem do Estadão na semana passada dá detalhes de mais essa maracutaia. E, antes que digam que esse jornal é suspeito (sempre condenou essa prática, que vem dos tempos de Getulio Vargas), lembro que as denúncias a respeito estão em toda parte.

Nesta semana, líderes sindicais tentam mais uma vez “parar São Paulo” com eventos dedicados a pressionar os candidatos presidenciais. É o pretexto da hora. Esses profissionais do sindicalismo vivem de chantagear os poderosos de plantão. Não admitem abrir mão das mamatas que conseguiram enganando os trabalhadores. Diz a reportagem que existem mais de 9 mil entidades sindicais no País, sendo que poucas são fiscalizadas. O dinheiro entra e ninguém presta contas do que é feito com ele. É o roubo oficializado, e com carimbo das autoridades.

Vejam este trecho do texto: “Parte dos sindicatos é constituída sem representatividade, só com o objetivo de arrecadar os recursos dos trabalhadores através das taxas existentes”, admitiu o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique da Silva Santos. “Está havendo desmembramento de sindicatos, muitos deles artificiais e piratas”, concorda Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT) e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo. “É o banditismo sindical.”

Quem fala são exatamente duas das maiores centrais sindicais, que defendem o tal imposto. Abrir um sindicato no Brasil é mais fácil do que abrir uma empresa – sendo que esta, supostamente, irá gerar empregos; aquele, quando muito, servirá para engordar a conta bancária de seus dirigentes.

Falando nisso: alguém sabe por onde andam Jair Meneguelli, Luiz Antonio Medeiros e outros líderes sindicais dos tempos pré-governo Lula? Podem procurar: cada um deu um jeito de “se arrumar”, como dizia aquele velho personagem do Chico Anysio. Os verdadeiros trabalhadores? Ah! Eles é que pagam a conta.

2 thoughts on “Roubando os companheiros

  1. Excelente, Orlando. Além da obrigatoriedade da contribuição, que é um absudo, esses sindicatos funcionam como bancas de dirigentes e advogados.

    Conheci de perto um grande sindicato aqui no Rio e é uma vergonha. Impressionava, de cara, chegar ao sindicato e ver dois três carros tipo Land Rover (novos, top-de-linha) estacionados na frente. Carros dos sindicalistas, claro. Na hora de fazer homologações, os advogados perguntavam para os filiados se tinham certeza disso, pois poderiam representa-los na justiça trabalhista e ganhariam mais. De forma acintosa, na frente do empregador.

    Mas o que poderiamos esperar? Numa “república sindical”, a tendência é só piorar.

  2. Aliadas de primeira hora, as centrais sindicais já receberam do governo Lula R$ 228,3 milhões em repasses do imposto sindical. Esses recursos começaram a engordar o caixa das entidades a partir de 2008, quando o Congresso aprovou projeto do Executivo para oficializar o papel das centrais dentro da estrutura sindical. Com a mudança, o governo concordou em abrir mão de metade de sua fatia do imposto sindical para beneficiar as centrais. Só neste ano já foi arrecadado R$ 1,684 bilhão com a contribuição, compulsória a todos os trabalhadores, sindicalizados ou não. 2010 deve ser recordista no recolhimento do tributo. Na prática, isso garante mais poder de fogo às centrais em pleno ano de eleições. Das 6 entidades que recebem o repasse, 5 já declararam, formal ou informalmente, apoio à pré-candidata petista Dilma Rousseff.

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