A notícia do dia no mundo tecnológico é a compra da Skype pela Microsoft por US$ 8,5 bilhões. A cifra em si já de assustar. Ilustra como são voláteis os negócios que envolvem empresas de internet. Há tempos fala-se numa “nova bolha”, em referência àquela que, na virada do século, derrubou milhares de investidores. Como se sabe, poucas empresas sobraram após a quebradeira geral. Agora, as especulações são de outra ordem.

De um lado, há os chamados “angel investors”, jovens capitalistas que deixaram bons empregos na indústria de tecnologia carregando polpudas indenizações, e que estão se oferecendo para financiar novos negócios (“start-ups”); de outro, a hipervalorização de gigantes como Google, Twitter, LinkedIn e Facebook (esta última foi avaliada no início deste ano em US$ 50 bilhões). Valores astronômicos fazem parte da rotina de empresas de capital fechado, como a de Mark Zuckerberg, e as leis americanas protegem esse tipo de divulgação, que sem dúvida contribui para atrair mais investidores.

Bem diferente é o caso da Microsoft, ainda uma das mais bem cotadas na Nasdaq, apesar de ter sido ultrapassada nos últimos anos. Pagar US$ 8,5 bilhões pela Skype é algo que terá de ser muito bem explicado aos acionistas. Estrategicamente, pode ser uma saída para o impasse em que a MS vem se debatendo nos últimos anos e que, a meu ver, reside na perda de identidade: trata-se de uma empresa de software ou de hardware? O crescimento fenomenal da Google e da Apple colocou a companhia fundada por Bill Gates contra a parede; para crescer, tem que fazer aquisições bem escolhidas. E a Skype, com seus mais de 600 milhões de usuários (170 milhões ativos, pelos dados oficiais), com certeza encaixa-se nessa categoria.

Mas pode ser insuficiente. Ao que se sabe, a ideia é indexar o serviço de telefonia grátis (ou quase-grátis) a todas as plataformas da MS: o programa de emails Outlook; o videogame Xbox (com sua rede mundial); a comunidade MSN; o sistema operacional Windows 7 e seus correspondentes para tablets e smartphones.

Agora, analisem a situação da Skype, fundada em 2003 pelo sueco Niklas Zennstroem e seu amigo dinamarquês Janus Friis, que se tornou sucesso quase instantâneo. Os dois venderam a empresa em 2005 por US$ 2,6 bilhões, para o grupo eBay, que anos depois se arrependeu e colocou-a à venda. Após uma série de brigas judiciais, Zennstroem e Friis voltaram ao comando, agora compartilhado com fundos de investimento (essa odisseia é contada em detalhes em meu livro, “Os Visionários“). Vendê-la por mais que o triplo desse valor é o sonho de qualquer financista. Em seu último balanço, a Skype apresentou dados preocupantes: acumula dívidas de US$ 775 milhões e não consegue convencer seus usuários a pagar por serviços agregados. Como, então, fazer dinheiro?

É o que a Microsoft terá que mostrar daqui por diante.

 

 

 

 

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