Amigos, colegas e conhecidos que moram ou têm contatos na Inglaterra enviam dezenas de mensagens sobre o mais fantástico movimento virtual até hoje: a mobilização através das redes sociais, como reação aos distúrbios dos últimos dias no país. Entendam bem: não é uma mobilização para apoiar os protestos, mas para acabar com eles. Ou, explicando melhor, para tranquilizar a população e cobrar mais ação da polícia. E também ajudar a limpar e consertar o que foi destruído pelos manifestantes, como se vê na foto acima. Não vi estatísticas a respeito, mas desconfio que 99% dos ingleses consideram tudo obra de vândalos que, aproveitando-se da falta de policiamento em alguns bairros de Londres, iniciaram o quebra-quebra, incendiando e saqueando casas e estabelecimentos comerciais.

Nos últimos anos, as mobilizações de caráter político via Twitter, YouTube, Google e Facebook vêm se tornando comuns pelo mundo afora. A primeira de que tenho notícia ocorreu na Colômbia em 2008, pouco antes da libertação da ex-senadora Ingrid Betancourt, sequestrada pelos terroristas das Farc. No final do ano passado, tivemos os já célebres movimentos no Norte da África, que culminaram com a queda de dois ditadores (os da Tunisia e do Egito), além do aumento da pressão internacional sobre vários outros. O que está acontecendo na Inglaterra é, que se saiba, o primeiro num país de Primeiro Mundo – e com fortíssima tradição democrática.

No Twitter, uma página chamada @RiotCleanup conquistou nada menos do 50 mil seguidores desde ontem, quando foi criada. Enquanto escrevo, recebo tuítes de pessoas que estão em Londres participando de uma espécie de vigília anti-desordem, convocada nas últimas 24 horas através das redes. Trecho de uma delas: “Vamos ocupar o Red Lion e outros pubs que tiveram de fechar as portas no fim de semana. Assim, consumimos bastante e ajudamos os proprietários a recuperar parte dos prejuízos que tiveram”. A última mensagem diz que cerca de 100 pessoas atenderam o convite e lá estão, no tal Red Lion, provavelmente comendo e bebendo à vontade. Um amigo inglês me disse: “Estou recebendo mensagens até do Paquistão perguntando se está tudo bem em Londres. Se um paquistanês tenha essa preocupação, é porque a coisa é séria mesmo”.

Evidente que nem todos os ingleses estão tranquilos como ele. Muitos se assustaram e fugiram para outras cidades, ou se trancaram em casa, com medo de sair às ruas. Mas a mobilização, digamos, pela paz mostra o que é possível conseguir quando se usa bem o poder das redes sociais. Pode-se derrubar governos corruptos, como na África; combater terroristas, como na Colômbia; organizar greves por melhores condições de trabalho, como está acontecendo hoje mesmo com os funcionários da operadora telefônica Verizon, nos EUA; ou simplesmente acalmar a população para evitar mais violência, como em Londres.

São exemplos de cidadania. Belos exemplos.

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