Ser multado nunca é agradável, como todo mundo sabe. Quem nunca foi levante a mão. Agora, ser multado num país estrangeiro é um pouco pior. Com todas as desculpas (a maioria esfarrapadas…) que você possa dar, ainda assim as pessoas te olham como uma espécie de marciano, tipo “como é que você tem coragem?” Já aconteceu comigo. Nos EUA. Idiotice de turista mal informado. Um cruzamento à esquerda em local proibido e lá veio a viatura, sirene a todo volume, mandando parar. Além de um esculacho – aliás, merecido -, um pedaço de papel me “condenando” a pagar 30 dólares. A alternativa era correr o risco de, na próxima visita ao país, ter o visto negado.
Bem, isso foi há mais de vinte anos. Ontem, lembrei do episódio aqui em Berlim, ao ser abordado por um fiscal do metrô. Primeiro, convém explicar que, na Alemanha (e na maioria dos países europeus), não existe a figura do cobrador, tão comum no Brasil. Anos atrás, em São Paulo, uma empresa de ônibus tentou modernizar os serviços instalando catracas automáticas, e se deu mal: o Sindicato pressionou, ameaçou depredar, etc. etc. etc., até que a ideia foi abandonada. Adeus, modernidade.
Na Alemanha, ao entrar numa estação de trem ou metrô você encontra máquinas para comprar o bilhete; bilheteria, com gente dentro, só nas estações muito grandes. No dia a dia, tudo é automático. Paga-se até com cartão de crédito. E pode-se escolher modalidades: se você está na cidade a trabalho (como é o meu caso), tem direito a um desconto, desde que comprove. Pode-se comprar bilhete para uma viagem só, ou para o dia todo, este dando direito a ir e vir quantas vezes quiser, dentro do perímetro urbano (mostrado num mapa em todas as estações). Antes de entrar no trem, deve-se validar o bilhete numa outra máquina.
O detalhe é que, como não há cobrador, os espertinhos aproveitam. Não são muitos, se formos usar os brasileiros como termo de comparação. Dá para imaginar o que haveria no Brasil se as pessoas pudessem entrar e sair das estações sem ter que mostrar seus bilhetes… Aqui, já tive a pachorra de ficar olhando quem chegava numa estação: de cada dez, pelo menos nove validavam seus bilhetes. Sim, há os do tipo “bilhete único”, pago mensalmente, que não precisam ser validados. Incrível, não? Nem quando têm a chance de burlar a lei, os alemães o fazem. Por que será? A explicação veio justamente ontem.
Tudo tão organizado, e com tantas opções, que acabei me confundindo. Meu bilhete só permitia viajar três estações. Passei da conta, e foi justamente quando o tal fiscal apareceu na minha frente. A sorte foi que, ao contrário do estereótipo alemão, era boa praça, brincalhão até. Me disse que a multa para esses casos é de 40 euros, mas, aceitando a explicação de que foi apenas “confusão de turista”, deixaria que eu comprasse o bilhete certo (6,40 euros), aquele que permite viajar o dia inteiro, não importam as distâncias e o número de estações. Ainda me ajudou com a maquininha. Seu nome era Hans. Grande Hans!