“Aquela senhora está tornando impossível investir no Brasil”.
A frase é de Jim Rogers, americano conhecido no mundo das finanças como um dos maiores investidores do mundo (já foi sócio do famoso George Soros). Rogers investiu bastante aqui, mas decidiu sair diante da política (ou falta de) do governo Dilma em relação aos capitais externos. Sua entrevista está no site do Estadão.
Como não sou investidor, não tenho condições de avaliar se esse senhor tem razão ou não. Mas, a julgar pelas decisões que o governo vem tomando em áreas estratégicas (tecnologia, energia, transportes, indústria), há bons motivos para crer que sim. A situação é tão confusa que as críticas agora saem de dentro do próprio governo. Primeiro, foi o empresário Jorge Gerdau, que chamou de “burrice” e “irresponsabilidade” a criação de tantos ministérios (para agradar seus aliados políticos, Dilma não consegue imaginar outra saída: acaba de aprovar o Ministério da Pequena e Microempresa, chegando assim ao recorde histórico de 39 ministérios).
Gerdau, para quem não sabe, é um dos empresários mais respeitados do país e aceitou, sem remuneração, o convite para o cargo de presidente da Câmara de Políticas de Gestão da Presidência. Aparentemente, é só fachada, pois o próprio Gerdau revela que já deu suas opiniões a Dilma mas ela não as aceita. Faz lembrar uma velha frase da política brasileira, se não me engano criada por Tancredo Neves: “Quando não se quer resolver um problema, forma-se uma comissão para estudá-lo.”
Esta semana, mais um integrante do governo saiu a criticá-lo. Henrique Miguel, coordenador da área de microeletrônica do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, ao falar sobre o PPB (Processo Produtivo Básico), essa polêmica invenção da burocracia brasileira, admitiu que o governo não consegue atuar com a agilidade de que o país precisa. “Todos os órgãos de governo têm que estar alinhados com a política, senão deixa de ser uma política de governo e de Estado”, comentou Miguel. “O problema é que, de forma pragmática, nos últimos anos, não tivemos esse alinhamento. Tem órgãos de governo que querem arrecadar, e tem os que querem promover o desenvolvimento científico e tecnológico. E cada um fica no seu papel.”
Henrique Miguel confessou que muitas vezes o governo não consegue administrar os conflitos entre setores da economia e acaba retardando as decisões, como estamos vendo – acrescento – nos casos do Programa Nacional de Banda Larga e da implantação das redes de celular 4G. Tudo isso acontece basicamente por dois motivos: a) o governo não tem competência para formular políticas de médio e longo prazo, e isso é visível em praticamente todos os departamentos, das telecomunicações ao petróleo, das PPPs ao câmbio; e b) dona Dilma, tida como “gerentona”, cada vez mais se mostra intratável e autoritária nas questões de administração pública.
Se Lula, por nada entender do assunto, delegava alegremente as decisões enquanto curtia suas infindáveis viagens internacionais, Dilma parece pensar que entende de tudo e, por isso, não deixa que ninguém decida. Como o PT armou um circo de alianças no qual as nomeações políticas são moeda valiosíssima, a maioria dos ministérios e órgãos da administração direta não tem capacidade, nem autonomia, para decidir coisa alguma que interesse ao país.
Nesse quadro, soa até ridícula a sugestão do empresário Nelson Wortsman, de se instituir no país um cargo de CTO (Chief Technology Officer), como existe, por exemplo, no governo Obama: um “superministro” focado nas questões de política industrial, científica e tecnológica, que faria os projetos andarem independentes dos ministérios políticos. Se existisse, o CTO brasileiro correria o risco de ser uma espécie de “nerd oficial”, um aspone que teria de pedir permissão a Dilma até para ligar o próprio computador.
Caro Orlando,
Começo a concordar com meu velho pai: só uma revolução daria conta de fazer esta papagaiada toda ser refeita. Não tenho mais fé no Brasil, apesar de todo o furdunço com crescimento de economia e etc. Pra mim, nos tornamos o “país do passado” antes mesmo de ter deixado de ser o “país do futuro”.