Aqueles que sempre defenderam a tese de que “um pouquinho de inflação não faz mal” devem estar vibrando. Os dados recém-divulgados sobre a economia nos primeiros quatro meses do ano são de aumento dos preços acima das metas traçadas pelo governo. Mais: estão subindo os índices de inadimplência, especialmente nas classes C e D, que até agora vinham sustentando a expansão do consumo. Quem diz isso sabe o que está falando: IBGE, Federação dos Bancos e os Institutos Kantar e Data Popular, que monitoram mês a mês o consumo em vários segmentos. Clique em cada um desses nomes para acessar os respectivos links.

Não vou entrar em detalhes porque este não é um site de economia; apenas, recomendo uma olhada nesses dados a quem quiser entender o que está se passando no país para além da propaganda governamental. Alguém já disse que “os números não mentem jamais”, mas neste caso há detalhes a ser observados nas entrelinhas. O Instituto Kantar, por exemplo, ao analisar o segmento de eletrônicos, constatou que o Brasil já ultrapassou a média de dois televisores por domicílio. Numa pesquisa encomendada pela Philips/TP Vision, com amostragem equivalente a 48 milhões de domicílios, constatou-se que em 76% dos casos a compra de um TV novo não significa abandonar o TV antigo; muitas famílias querem um aparelho moderno para a sala e, com isso, transferem o outro para um quarto.

Foi uma das explicações que tive de Alessandra Aguiar, gerente de marketing da Philips. “O ciclo de vida dos aparelhos está aumentando”, diz ela. “Antigamente, se trocava o TV a cada oito ou dez anos. Agora, a pesquisa mostra que as pessoas querem se modernizar, mas sem abrir mão do aparelho antigo, que acaba indo para o quarto do filho ou do próprio casal.”

Faz sentido. Numa época em que assistir televisão tornou-se um hábito individual (ainda mais quando o aparelho pode ser usado para jogar videogame ou navegar pela internet), é natural que haja três, quatro ou até mais TVs pela casa. “Muitos nem querem se desfazer do TV de tubo, que continua funcionando”, lembra Alessandra.

Com tudo isso, a quantidade de TVs em funcionamento nas residências vai aumentando, mesmo quando as vendas de modelos novos não estão muito altas. O que não é o caso agora: com a proximidade da Copa das Confederações, as redes de varejo aumentam as promoções, e é provável que batam o recorde de 12 milhões de aparelhos vendidos este ano. E, mesmo que isso não aconteça, já será um bom ensaio para 2014, quando a Copa do Mundo deverá completar o serviço. Com ou sem inflação.

A propósito, e voltando ao tema do primeiro parágrafo: as pesquisas indicam que o consumidor está cortando gastos em alimentos, não em bens duráveis como são os eletrônicos. Mais um pouco, e poderemos afirmar que o brasileiro prefere ficar sem comer a ficar sem ver televisão.

2 thoughts on “Inflação ou inadimplência? Ou ambas?

  1. Fiquei assustado com os preços dos novos modelos de tv da Sony e da Samsung! Cerca de 20% a mais do que os modelos “antigos”. É um absurdo!

  2. Sobre crescimento, é possível encontrar todo o tipo de estimativa hoje no mercado. Tem gente prevendo 2%, tem gente prevendo 4%. E a maioria está em torno de 3%, mas o número tem diminuído um pouquinho a cada semana. A inflação faz o caminho inverso.

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