Em mais um de seus didáticos artigos, o economista Ricardo Amorim aponta dois exemplos de distorção típicos do Brasil atual. Citando a empresa de pesquisas iSupply, ele diz que o custo de produção de um iPhone 5 é de R$ 403 – o mesmo aparelho que, nos EUA, é vendido pelo equivalente a R$ 1.265 e, no Brasil, por inacreditáveis R$ 2.600. Amorim, corretamente, amplia a análise para outros setores, mostrando que a distorção atinge praticamente toda a economia brasileira. “Pelo preço de uma Ferrari 458 Spider no Brasil, compra-se o mesmo carro, um apartamento e um helicóptero em Nova York”, calcula o economista, para vergonha de todos os brasileiros que ganham a vida honestamente (seu artigo pode ser lido aqui, na íntegra).

Muito já foi dito e escrito sobre o chamado “custo Brasil”, em que se somam todas as distorções monetárias provocadas (ou consentidas) por uma impressionante sequência de governos ineptos e/ou corruptos. Além dos impostos mais altos do planeta, temos um inédito mix de infraestrutura deficiente (estradas, logística, energia, telecomunicações), falta de mão-de-obra qualificada (consequência do mau investimento em educação básica), burocracia, serviços públicos precários (agravados por um Estado que quer se intrometer em tudo) e, para completar, uma população subserviente, quando não ignorante. Cada um desses problemas pode ser encontrado, em grau maior ou menor, em outros países, inclusive do Primeiro Mundo. Mas todos juntos? E em tal escala?

O artigo de Amorim, que é apenas mais um especialista a tocar nessas feridas, me remeteu a obras clássicas que procuram entender por que nosso país está deixando de ser, como ele mesmo diz, o “país do futuro” para se tornar o “país do futuro do pretérito”. Autores como Sergio Buarque de Holanda, Francisco de Oliveira, Bóris Fausto e Florestan Fernandes já buscaram as explicações, sem muito sucesso, apesar de todo o seu brilhantismo. Mesmo cabeças atualíssimas – Mailson da Nóbrega, Gustavo Ioschpe, Fernando Gabeira, Cristóvam Buarque e Eduardo Gianetti, só para citar alguns – têm dificuldade em identificar onde e quando foi exatamente que perdemos o chamado bonde da história (clique em cada nome para ter acesso ao que eles pensam).

Deve ter sido, pelo que conheço, em algum ponto do século 19, quando muitos lutaram (alguns até morreram) para derrubar o império português, acreditando que a República seria a solução para todos os males. Hoje, sabemos que nem a escravidão e o preconceito racial foram 100% eliminados! Pior: ainda se vê muita gente com ideias que nos levariam de volta àqueles tempos obscuros.

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