Não tive tempo de comentar aqui a polêmica decisão daquele juiz que suspendeu o Whatsapp por três dias – apenas um dia foi cumprido, suficiente para causar pânico geral. O nome do juiz, que meses atrás também havia mandado prender o vice-presidente do Facebook, não vem ao caso; talvez estivesse apenas querendo seus minutos de fama. Mas sua decisão é simbólica dos tempos atuais: o Estado insiste em tentar controlar a comunicação entre os indivíduos e, para isso, é capaz de usar os meios mais esdrúxulos.
O problema não é apenas brasileiro. Esta reportagem mostra que os governos, invocando “proteger” a sociedade, vivem criando meios de impedir o fluxo independente de informações. Em países como Cuba, China e Coreia do Norte, esse fluxo praticamente não existe, e nos EUA recentemente houve uma disputa entre a Apple e o FBI devido ao uso do iPhone por terroristas. É a velha história de culpar o carteiro: este não sabe o que está escrito na carta, assim como Whatsapp, Facebook, Apple etc. não conseguem mexer no conteúdo das mensagens que veiculam, que aliás são criptografadas.
Como estamos vendo na crise política, parece que muitas pessoas não conseguem entender que os tempos são outros. Não é mais possível, felizmente, direcionar a informação como se fazia antes. As mídias se fragmentam a ponto de cada indivíduo ser, por si só, produtor e distribuidor de conteúdo, e assim atingir o “seu” público. No fundo, é a sociedade moderna tentando se adaptar à vida conectada.