Demorou, mas a indústria eletrônica americana parece estar se dando conta de que as políticas protecionistas do governo Trump se voltam contra o setor. Após um ano e meio de declarações vazias, numa clássica posição em-cima-do-muro, há duas semanas a CTA (Consumer Technology Association) divulgou comunicado condenando a criação de tarifas adicionais sobre a importação de produtos chineses (vejam aqui).
Itens como baterias de lítio, dispositivos GPS, placas de circuito impresso e discos rígidos entraram na lista de sobretaxações, que segundo o governo representam um total de US$ 50 bilhões em tarifas que os importadores terão de recolher. Segundo a CTA, esses itens, fundamentais para os fabricantes americanos, respondem por 30% do total (cerca de US$ 15 bi). Somando as retaliações do governo chinês contra produtos dos EUA, a entidade calcula que o PIB americano sofrerá uma queda de US$ 49 bilhões.
“Uma guerra comercial baseada no aumento de tarifas prejudica tanto os EUA quanto a China”, diz o documento. “Prejudica também empresas e consumidores. É uma guerra sem vencedores, pois os dois mercados estão interconectados. Se não for encontrada uma solução, haverá desemprego e inflação. Embora haja problemas na postura comercial da China, a diplomacia pode atingir os objetivos desejados sem causar esse mal desproporcional aos EUA”, finaliza.
Não foi coincidência que, um dia depois, o governo chinês anunciou seu contra-ataque, na forma de tarifas extras sobre 545 produtos vindos dos EUA, incluindo carros, soja e carne. The New York Times lembrou que, no passado recente, os chineses lançaram boicotes contra produtos da Coreia do Sul, Japão e Filipinas, após conflitos semelhantes. Só que o problema agora é muito mais sério. Corporações como IBM, Intel, Apple, Microsoft, Texas Instruments, GE, Cisco, Nike, Starbucks e General Motors têm grandes operações na China. Se a briga escalar para o nível de boicote, o feitiço pode se virar contra Trump.
Este artigo ajuda a entender melhor a polêmica.