Desconfio que, para uma geração inteira de brasileiros, a sensação de conviver com uma inflação de dois dígitos (chegou a 12,13% em abril, caindo em junho para 11,89%) seja um pouco estranha. Encontrar no supermercado aquele(a) funcionário(a) a todo vapor com a maquininha de remarcar preços não era tão comum até, digamos, dois anos atrás. Quem já viveu um pouco mais sabe bem como é isso. E, pior, sabe que quando a engrenagem da inflação dispara, é difícil fazê-la reverter.

Mas é exatamente esse cenário que, hoje, força grande parte dos varejistas a refazerem suas contas. Levantamento da consultoria Economatica, uma das mais respeitadas do país, publicado pela Folha de São Paulo, mostra que, de 29 redes de varejo com ações na Bolsa, 21 tiveram que reduzir suas margens de lucro no segundo trimestre. Essas empresas andavam animadas com a retomada pós-pandemia, até o início do ano, quando o consumidor viu-se obrigado a apertar o cinto.

Auxílio Brasil + Copa do Mundo + Black Friday

Disso resulta uma enorme expectativa em relação aos próximos meses, vitaminados pelo Auxílio Brasil que o governo tirou da cartola com vistas à eleição. Não é a primeira vez que acontece: todo governo reserva “bondades” para o final de mandato; na minha lembrança, o único que não o fez foi FHC, em 2002 (mas havia feito em 1998, quando se reelegeu).

Independente da política, o setor de eletroeletrônicos espera ser beneficiado com a nova conjunção de fatores (Auxílio Brasil+Black Friday+Copa do Mundo). Das redes citadas no estudo da Economatica, três estão entre as líderes do setor: Magalu, Americanas e Via (Bahia+Ponto). Informaram na pesquisa que não reduziram margens no período mais alto da inflação, mesmo perdendo receitas – Magalu e Americanas registraram prejuízo.

Sobre algumas delas, pesa ainda a questão dos juros. O custo do dinheiro, com a Selic subindo para 13,75% no início de agosto, é um pesadelo para quem trabalha com itens de maior valor (caso das TVs de tela grande, por exemplo). Há muita ansiedade em relação ao 5G, cujos preços médios (e as margens) flutuam mais de 120% acima do 4G, e todos esperam que o “fator Copa” leve mais consumidores às compras.

Vamos acompanhar esses movimentos nos próximos três meses.

1 thought on “Varejo faz contas, com a “nova” inflação

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