Lembro bem do slogan (“The Day The Music Died”), criado pela imprensa americana para 03/02/1959. Nesse dia, um acidente aéreo matou o cantor, compositor e guitarrista Buddy Holly, o cantor Ritchie Valens (do hit “La Bamba”) e o DJ Big Bopper. Em 1971, o cantor/compositor Don McLean escreveu seu maior hit, “American Pie”, como tributo àquele dia, quando aos 13 anos ouviu a notícia no rádio. Três ídolos mortos no mesmo dia, no mesmo acidente!

Pois nesta 3a feira fiquei me sentindo meio assim: um pouco da música do planeta se foi com meu velho amigo e colega Fabian Chacur, que aos 62 anos (que completaria no próximo dia 25) partiu hoje. É o segundo amigo que perco este ano, que começou com a morte inesperada e chocante de Jose Augusto Aideira, também ex-colega e colaborador; um, especialista em música; o outro, em cinema.

Garimpagens musicais

Fabian era daqueles amigos que, mesmo a distância, a gente sabe que está por perto. Nestes tempos áridos de FB e WhatsApp, trocávamos mensagens quase toda semana, ele sempre em sua incansável garimpagem para encontrar (ou reencontrar) cantore(a)s, compositore(a)s, músico(a)s, bandas, canções e álbuns com que recheava seu blog Mondo Pop.

Nunca conheci alguém com conhecimentos tão enciclopédicos sobre música popular internacional, independente de gêneros ou modas. Era uma qualidade que, por si só, já justificava sua presença em publicações culturais variadas. Fabian não preenchia o perfil de crítico, longe disso; era um jornalista pesquisador, e portanto um historiador musical.

Quando surgia em nossa editora qualquer ideia relacionada a música, ninguém pensava em outro nome. Fabian cuidava de nossos roteiros de discos e shows, e fizemos várias edições especiais. E arriscamos, em 2002, um projeto inédito: editar um livro que fosse, ao mesmo tempo, guia de consulta (para consumidores e também para profissionais da área) e estímulo ao relançamento de títulos esquecidos pelas gravadoras.

Generosidade e perfeccionismo

Talvez seja preciso lembrar que na época vivíamos ouvindo LPs e CDs, o MP3 engatinhava (acabara de sair o iPod) e a palavra streaming ainda não tinha sido inventada. Pois Fabian garimpou durante dois anos, dia e noite, todos – sim TODOS – os discos dos 300 artistas internacionais mais importantes surgidos na segunda metade do século 20.

Só mesmo Fabian Chacur, com sua paciência e perfeccionismo, para garantir a proeza, com um grau de detalhamento que nunca mais encontrei em nenhum outro profissional. “Os Ídolos do Pop Rock” não chegou a ser um sucesso de vendas, nem era essa a intenção, mas foi apreciado e consultado por muitos artistas, produtores, DJs, programadores de rádio etc.

Todas as qualidades profissionais de Fabian se somavam a uma honestidade, generosidade, retidão de caráter e bom humor contagiantes. Ficamos nos devendo uma continuação, que seria “Os Ídolos do Rock Brasileiro”. Se um dia nos reencontrarmos, Fabian estará lá, com certeza, pronto para novas garimpagens.

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