Uma semana atrás, comentávamos aqui sobre a investida da Netflix para comprar a Warner Bros. Discovery, desbancando as ofertas anteriores da Comcast e da Paramount. Eis que, nesta 2ª, o jogo virou, ameaçando transformar o caso numa daquelas séries dramáticas, cheias de reviravoltas, que reservam surpresas (e suspense!) a cada episódio.

Para acompanhar, é preciso entender como funciona a regulação das empresas americanas e, em particular, a polêmica “oferta hostil”, que é quando uma empresa faz proposta de compra diretamente aos acionistas, e não ao seu conselho executivo. Este, composto majoritariamente por funcionários contratados, é quem conduz as negociações na maioria dos casos. Mas o conselho de acionistas é, na prática, mais poderoso (pode, inclusive, destituir os executivos, até mesmo o CEO, executivo-chefe).

Após a Netflix anunciar, semana passada, sua oferta de US$ 82,7 bilhões pelas divisões de cinema e streaming da Warner Discovery, incluindo o estúdio Warner Bros e a plataforma HBO Max, tudo parecia encaminhado. Afinal, a expectativa da WBD era receber “apenas” cerca de US$ 70 bilhões… Para concluir o negócio, faltavam a aprovação formal do conselho de acionistas e, claro, dos órgãos reguladores.

 

Um drama de suspense que pode chegar a US$ 108 bilhões

Mas, como nas boas séries de suspense, começam a surgir personagens com poderes para embaralhar esse jogo. O primeiro é a família Ellison, dona da Paramount Skydance, que já havia feito várias tentativas, sem sucesso, de adquirir a WBD (vejam aqui). Após terem fechado com a Netflix, executivos da WBD foram surpreendidos hoje com a oferta hostil da Paramount: nada menos do que US$ 108,4 bilhões pelo grupo todo, incluindo seus famosos canais de TV, entre eles a história CBS.

As duas adversárias – Netflix e Paramount – passaram o dia trocando acusações, enquanto especialistas analisavam o que pode acontecer no mercado caso vença uma ou outra. Netflix é a maior empresa de streaming do mundo, e HBO a terceira. Somadas, ambas teriam praticamente 50% do mercado mundial. Além disso, a Paramount é dona não só de um grande estúdio em Hollywood, mas também de uma distribuidora com atuação global e de uma rede de cinemas que cobre várias regiões dos EUA. Tem o apoio, portanto, de boa parte da comunidade cinematográfica.

Outro personagem que pode ser decisivo nessa história é um certo Donald Trump. Para a imprensa, ele diz que está preocupado com a questão da concorrência. Mas talvez pese mais o fato de Trump ser grande amigo de Larry Ellison, tido como um dos homens mais ricos dos EUA e cujo filho David é dono da Paramount Skydance.

Em outros tempos, seria mesmo uma “missão impossível”. Mas a Casa Branca pode, sim, influir no processo de aprovação de um negócio como esse, embora isso não seja ético nem tenha precedentes históricos. Trump já tem um longo prontuário de intervenções em empresas de mídia e nos órgãos reguladores. Segundo a BBC, qualquer definição sobre a venda da WBD precisará ter a aprovação do governo, e a família Ellison é uma das maiores doadoras do Partido Republicano.

Aguardemos os próximos episódios.

 

 

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige o site HT & CASA DIGITAL. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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