O que se pode esperar da TV digital

 Por Vinicius Barbosa Lima

Cinco meses depois da inauguração oficial em São Paulo, que aconteceu no dia 02 de dezembro de 2007, a TV digital começou a chegar a outras capitais, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e agora Goiania.

A experiência paulista está longe de ser considerada um sucesso. Os problemas ainda são muitos: a venda de receptores ficou abaixo das expectativas, o cronograma de implantação está atrasado e a quase totalidade das propostas governistas (principalmente em relação ao preço dos receptores e à interatividade) ainda não foi cumprida.

Dados mais otimistas estimam que, até o momento, cerca de 50 mil lares paulistanos estão equipados com conversores de TV digital. O limitado raio de alcance dos sinais (cerca de 50km, mas que deve aumentar em breve) ajuda a decifrar os motivos por trás do pequeno número de adeptos.

Parte da programação em alta definição também já pode ser conferida via satélite, por meio de parabólicas e receptores digitais compatíveis. Mas aqui é necessário separar bem as coisas. A grande novidade, que entrou em funcionamento, foi a TV digital terrestre, cujos sinais só podem ser propagados pelo ar. Ocupa, no caso, a faixa de freqüências UHF, como sempre ocorreu com a tradicional TV aberta analógica. As transmissões digitais por satélite já existem há anos e, mesmo na TV a cabo, a prática tem se tornado comum. A operadora NET, por exemplo, é uma das que já transmite parte de sua programação em HD.

A maior mudança está no fato de que algumas emissoras (apenas a Band e a RedeTV inicialmente), acostumadas a transmitir digitalmente apenas em resolução standard (SD), começaram a enviar seus sinais digitais de alta definição (HDTV) também por satélite, operando em Banda C junto ao Brasilsat B4. No mesmo satélite, estão os canais por assinatura Globosat, cujas transmissões em alta definição também foram iniciadas recentemente.

E para quem deseja aproveitar desde já essa nova facilidade, a dica é acessar www.brasilsatdigital.com.br:80/charts/charts.php?ir=b4, página que traz informações sobre todos os canais disponíveis, codificação de áudio e vídeo e relação de aspecto (aspect ratio) da imagem.

A questão dos preços dos conversores também é polêmica e têm provocado uma verdadeira guerra entre o governo e a indústria. De um lado, o Ministro das Comunicações, Hélio Costa, freqüentemente anuncia para o “mês que vem” receptores por cerca de R$ 200. Do outro lado, os fabricantes insistem que a queda nos preços virá somente com a produção em escala e a redução da carga tributária, a real vilã da história. Além do mais, as tão faladas linhas especiais de crédito para a TV digital anunciadas pelo governo ainda não saíram do papel.

A fim de amenizar os ânimos e efetivar uma redução nos custos de fabricação dos receptores, busca-se agora um acordo junto à empresa Sun Microsystems, que criou a plataforma Java. Se a parceria vingar, será possível abrir o código do módulo de interatividade, que está sendo desenvolvido para o sistema brasileiro de TV digital. Com isso, os fabricantes dos aparelhos e as emissoras não terão de pagar royalties pelo licenciamento da tecnologia em seus produtos e serviços.

Qualquer pessoa com um pouco de bom senso sabe que é impossível oferecer equipamentos de qualidade HD custando os valores prometidos pelo governo. Aliás, mesmo os conversores de custo mais acessível (na casa dos R$ 500) têm sido alvo de constantes reclamações dos consumidores. Pensando nisso, vem sendo preparado um programa de certificação do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) para os produtos de consumo ligados à TV digital.

E quanto à interatividade? Aqui, o maior problema é que o software destinado a esse tipo de aplicação, o GINGA, ainda não estava pronto quando foram lançados os primeiros conversores. E, para complicar, não há quaisquer garantias de que será possível instalá-lo nos receptores atualmente disponíveis, o que pode obrigar os consumidores à troca prematura desses aparelhos.

Por outro lado, a interatividade também depende de investimentos das emissoras em capacitação técnica e geração de conteúdo compatível, além da criação de apropriados canais de retorno dentro da banda disponível. Ou seja, torna-se indispensável a união de forças entre setores que até o momento não falaram a mesma língua (governo, emissoras e indústria).

Por isso, é bem provável que a tão falada interatividade seja uma das últimas facilidades a ser efetivamente implantada por aqui.

Clique nos links abaixo para se atualizar sobre o cronograma de implantação da TV Digital.

Fórum Brasileiro de TV Digital (SBTTVD)

Simplificado a TV Digital

Como funciona a TV Digital

Processo de implantação

* Artigo publicado originalmente na revista HOME THEATER&CASA DIGITAL em 18/08/08.