Google leva navegação complexa à TV

Por Chris Nutall

Web e televisão se encontraram com o lançamento do Google TV no mês passado. Mas determinar se os consumidores desejarão participar dessa colisão marcada para suas salas de visita ainda é bastante difícil. Rivais mais experientes no ramo de bens eletrônicos de consumo, tais como a Apple e sua Apple TV, à venda por US$ 99 [R$ 168], vêm agindo com cautela quanto à oferta de aparelhos de baixo preço para levar filmes, música e fotos como suplemento da programação regular de TV.

O Google está sendo muito mais ambicioso, ao se colocar literalmente entre o sinal de TV e o aparelho. Uma conexão que conduz o sinal de TV a cabo ou via satélite por um aparelho produzido pelo Google, antes de levá-lo à TV, dá ao Google posição central na experiência televisiva e permite que a empresa sobreponha seu sistema operacional, recursos de busca e as maravilhas da web à imagem da TV regular.

Mas os telespectadores terão de superar o desafio de navegar e assistir a tudo isso por meio de um controle dotado de teclado, mais complexo que os controles remotos a que se acostumaram. Venho testando os dois aparelhos do Google TV lançados nos Estados Unidos -o Logitech Revue e o Sony Internet TV Blu-ray player- e os comparei a outras tentativas de combinar TV convencional e web, oferecidas por TiVo e Yahoo!. A Sony também lançou televisores com conexão à internet integrada, dotados da interface do Google TV.

O aparelho da Logitech consiste de uma unidade esguia e negra que fica junto ao televisor e de um teclado sem fio. Um ícone em formato de lupa para abrir uma caixa de buscas e um ícone no formato de uma casa para a tela principal do Google TV são os dois botões mais importantes do controle. Uma busca pelo nome de um programa de TV gera uma lista de episódios armazenados em meu gravador digital Dish, horários de exibição do guia de programação e conteúdo relacionado ao programa disponível na internet.

O aparelho de US$ 400 e seu controle não requerem assinatura de qualquer serviço, mas o Revue também é oferecido pela Dish ao preço subsidiado de US$ 179, com uma assinatura mensal de US$ 4 pelo serviço. Conectei o aparelho da Sony ao televisor e ao decodificador Dish de um quarto, o que representa o uso ideal dessa unidade de dimensões modestas, porque ela ocupa menos espaço do que o sistema que eu usava antes. O controle é um pequeno teclado, muito mais fácil de segurar e guardar que o da Logitech, mas muito mais difícil de compreender.

CONCORRENTES
Em contraste, a TiVo, famosa pelos gravadores digitais de vídeo fáceis de usar, ocultou toda essa tecnologia empregando um teclado escondido no controle remoto, ao lançar seu Premiere, no ano passado.

O Premiere mistura TV e internet de maneira mais sutil e mais fácil de usar. O sistema não conta com um navegador, mas seu sistema de buscas registra os programas disponíveis na lista de programação, na memória de seu gravador e em fontes tais como o YouTube e a Amazon on Demand. O aparelho custa US$ 300, com assinatura mensal de US$ 13.

Vizio e Yahoo! também tentam impedir que a web interfira demais na experiência televisiva com o aparelho Vizio XVT553SV. Descobri-me usando mais os serviços de locação on-line de vídeos da Netflix e da Amazon On Demand do que aplicativos de informação via web, a exemplo de cotações de ações. Comparado a esses dois exemplos de web no televisor, o software do Google TV parece ainda um tanto primário, e talvez radical em termos de levar a web ao telespectador convencional.

Como o piloto de uma série de TV, o Google TV precisa de correções antes que possa esperar atrair usuários mais convencionais nos EUA. A versão atual é insatisfatória, o que pode explicar a relutância em marcar uma data para o lançamento internacional do serviço.

*Artigo publicado originalmente pelo Financial Times, e reproduzido pela Folha de São Paulo em 03/11/2010