TI no Brasil depende de educação

Por Bruno do Amaral

Se tratando de convergência digital, o Brasil está melhorando, mas ainda falta uma longa estrada para atingir os patamares ideais. Grande parte dessa deficiência do país, inclusive no mercado de TI, tem estreita relação com a educação, segundo a conclusão do estudo da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), divulgado na semana passada em São Paulo.

A pesquisa, chamada de Índice Brasscom de Convergência Digital (IBCD) e já na quinta edição, apresenta o Brasil com a pontuação de 6,75 (a escala vai até 10), um crescimento de 15,4% em comparação com o número apresentado na última edição, em 2008. “É preciso ter pressa”, afirma Nelson Wortsman, diretor de Infraestrutura e Convergência Digital da associação. “Não se trata só de máquina e software, mas também de infraestrutura, mão de obra e conectividade”, ressalta.

Segundo Wortsman, o índice é focado no mercado brasileiro, para avaliação interna. Comparando com alguns países do mundo, no entanto, mostra-se um cenário ainda precário. Segundo a projeção ISI 2009, da firma de pesquisas Averis, o Brasil está na média da América Latina, com os mesmos 4,54 de pontuação. O Chile e a Argentina obtiveram resultados melhores, com 5,75 e 4,73 respectivamente.

Mas os índices melhoram também porque o cidadão brasileiro já considera a tecnologia como parte da despesa mensal da família com cerca de 2,6%, após itens básicos como alimentação e transporte. Mas a estrutura ainda deixa a desejar, já que o acesso à internet atinge 53% da população, com 45% desses sendo em centros públicos e lan-houses.

Há crescimento na banda larga, mas ainda é concentrado em regiões, com o Sudeste responsável por 68% dos assinantes – não muito diferente de como ocorre com a distribuição de renda. “Os problemas brasileiros, como sempre, refletem em tudo. É preciso um foco muito grande no Norte e Nordeste”, destaca. Mas mesmo onde existe conexão, ela costuma ser ruim, com o custo médio de pacotes de 1 GB chegando a R$ 84,90, um dos mais caros do mundo. A velocidade média no país é de 1,3 Mbps – a Rússia, com índice de desenvolvimento semelhante, possui 18,2 Mbps.

Outro setor que cresce é o e-commerce, com previsão de US$ 20 bilhões até o final de 2011. Com 35 milhões de consumidores. “Pelo tamanho do país, deveria ser maior”, afirma Wortsman. O e-gov, por sua vez, possui “ilhas de excelência, como a Receita Federal, o sistema de cobrança de multas e as urnas eletrônicas para as eleições”, segundo o diretor da Brasscom, ressaltando que o país está mal posicionado no setor, na 61ª posição no ranking mundial.

Já a TI nacional é uma das maiores do mundo, embora receba de bancos e instituições financeiras os maiores investimentos, com 27,9% de participação. A manufatura (21,2%), Telecom (19,2%) e o Governo (8,1%) vêm logo após, com comércio (6,75%), combustíveis (5,72%), serviços em geral (5,35%), utilidades (4,24%) e educação (1,53%) em seguida, segundo os dados da Brasscomm com IDC.

Mas o mercado de TI é muito carente em profissionais. “O setor de TI é muito focado na necessidade de educação, então quando se olha o Brasil e vê a relação de 5,5 milhões de vagas em cursos universitários, nota-se que há 3 milhões de inscritos e apenas 800 mil se formando”, explica Wortsman, detalhando a marca de 15% de evasão escolar no ensino superior. “Está muito fácil fazer tecnologia no país, inclusive sem peneira: apenas 85 mil concluem [cursos relacionados à TI] por ano, e isso não cobre as necessidades”, completa.

“Isso para o mercado é horrível e mostra uma direção. Se o Brasil quer ser forte em TI, e eu tenho sentido isso, todo mundo sabe o que está em falta”, avalia. “Estamos avançando, mas pelos desafios que temos pela frente, é necessário e urgente ter providências. O país está vivendo um bom momento e isso merece foco, pois só temos a melhorar”, conta, mas ressaltando: “É preciso ter pressa”.

*Publicado no site Decision Report em 19/05/2011