Quando terminará essa recessão?

Por The New York Times* 

Na terça-feira da semana passada, Ben Bernanke, chairman do Federal Reserve, previu que 2010 “será um ano de recuperação”. Na sexta-feira, os americanos souberam que o Produto Interno Bruto (PIB), caiu 6,2% no último trimestre de 2008, sugerindo que a recessão pode ser mais profunda do que se esperava. Então, quando exatamente esse sofrimento chegará ao fim? Quando veremos uma reviravolta da economia? Nossos editores pediram para 11 especialistas arriscarem um palpite.

Se você tem de perguntar…

“Quando você parar de perguntar”, respondeu exasperado o corretor a um cliente incômodo que repetia sempre esta mesma pergunta quando o mercado acionário entrou em colapso em 1974: “Quando isso vai acabar?” Ninguém sabia ou poderia saber. O corretor, mais prudente do que o cliente imaginava, preferiu não dar aquele tipo de resposta empolada que se ouve tanto hoje nos canais de TV a cabo. “Bem, o pessimismo no mercado vai acabar quando a crise do Watergate for resolvida, o Federal Reserve atacar o problema da inflação e a atividade empresarial mostrar sinais convincentes de recuperação”, respondeu. E ele não estava especulando. Em vez disso, disse a verdade, que o pessimismo dos mercados acabaria quando os investidores voltassem a ter esperança.

A esperança sustenta a vida, mas a esperança perdida prolonga as recessões. Na raiz deste paradoxo está a noção de que booms não só precedem booms, mas também são causa deles. Os booms modernos foram produto de taxas de juro baixas e crédito fácil. As pessoas se endividaram excessivamente, pagaram muito e abusaram. Elas adoram as coisas adquiridas com o dinheiro emprestado, mas as dívidas ficaram insuportáveis. Então os ativos, ou parte deles, têm de ir embora. Uma pequena venda – de casas, carros, empresas, ações – se converte numa grande quantidade, e depois você fica sabendo que se pensa em nacionalizar o Citigroup.

Desejando que isso não aconteça com elas, proprietários de imóveis e donos de empresas esperançosos resistem em fazer os ajustes necessários. Alguns se recusam a vender a casa que não têm condições de possuir. Outros não querem nem pensar em vender ações pelas quais pagaram o que parecia ser um preço razoável e hoje valem a metade.

Os preços baixos de hoje, por mais dolorosos que possam ser, se tornam o próprio estímulo do mercado. Antes de você saber, o mercado acionário, como também o mercado imobiliário residencial, estarão a caminho de uma recuperação – só não pergunte quando.

*James Grant é editor da Grant´s Interest Rate Observer, e autor do livro “Mr. Market Miscalculates”

Cuidado com esta falsa aurora

Seria prematuro declarar o fim da recessão nos Estados Unidos ao primeiro sinal de retomada do crescimento. Após um declínio invulgarmente acentuado da economia no fim do ano passado e começo deste ano, uma reação estatística no segundo semestre de 2009 não estaria fora de questão. Ela poderia ser motivada pelos giros do ciclo de estoque. Ou poderia refletir as primeiras escavações dos projetos do pacote de estímulo.

Mas qualquer vestígio de crescimento será provavelmente o arauto de uma fala aurora, porque o consumidor continua em péssima forma. As famílias americanas viveram acima de seus meios por mais de uma década, endividando-se com a garantia de casas supervalorizadas. Com o estouro das bolhas imobiliária e creditícia, suas carteiras de ações em queda e seus empregos ameaçados, os consumidores foram impelidos a uma nova frugalidade. Eles provavelmente ficarão arredios durante anos. A fração do consumo no Produto Interno Bruto ainda é de 71%, abaixo do pico de 72%, mas muito acima dos 67% que prevaleceram de 1975 a 2000.

Isso aponta para um recuperação anêmica, na melhor hipótese – sem força para impedir que a taxa de desemprego cresça a quase 10% no próximo ano e meio. Como é difícil chamar isso de recuperação, me parece que essa recessão não terminará antes do fim de 2010 ou início de 2011.

*Stephen S. Roach é presidente do banco Morgan Stanley para a Ásia.

 

A resposta mais concisa é: levará algum tempo

A recessão é global: as exportações, a produção e o consumo estão caindo de forma acelerada. Os ventos contrários são muito fortes em razão da excessiva alavancagem, dos balanços comprometidos e do consequente aperto do crédito.

As principais instituições financeiras podem estar insolventes; é difícil avaliar seus livros contábeis. Os bancos europeus têm problemas semelhantes aos americanos com ativos tóxicos e também lutam por causa de sua exposição à turbulência financeira na Europa Oriental. Os europeus do Leste fizeram empréstimos em euros e francos suíços. A fuga de capitais e a desvalorização das moedas provocaram o aumento das dívidas. E o sistema bancário paralelo, pelo qual foi concedida uma quantidade substancial de créditos, não funciona mais.

O crescimento global aproxima-se do zero, e as economias de todos os países avançados provavelmente encolherão em 2009. Os preços das ações e dos imóveis continuam em queda, portanto consumidores e companhias levarão mais tempo para saldar suas dívidas.

Estes fatores provocaram, em primeiro lugar, uma redução do consumo e depois o declínio dos investimentos e do emprego. Com isso, as vendas, os lucros, a qualidade do crédito e, completando o círculo, os valores dos ativos caíram. É esta espiral que torna a recessão atual um fenômeno excepcional.

Os governos e os bancos centrais são as únicas importantes fontes de crédito, liquidez e aumento da demanda – tendo sofrido perdas, o capital privado e os fundos soberanos são em grande parte evitados. Se os governos forem rápidos e transparentes em suas intenções e intervierem de maneira coordenada na economia real e no setor financeiro, provavelmente teremos uma recessão global profunda até 2010. Se não o fizerem, provavelmente a situação se agravará ainda mais.

*A. Micheal Spence é professor emérito de Administração em Stanford,
e foi vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2001. 

Parem com a ajuda aos bancos

As causas fundamentais desta recessão, única na experiência dos EUA, foram o não pagamento das hipotecas e a consequente insolvência das principais financeiras. Essas insolvências, e principalmente o medo de que elas ocorressem, acabaram comprometendo os mecanismos normais de crédito.

Mas a autocorreção dos mercados acabará prevalecendo. Não devemos subestimar o poder da política monetária; depois do aumento vertiginoso do estoque de dinheiro do país, que começou em setembro, a política monetária agora é extraordinariamente expansionista. Entretanto, acredito, embora sem confiar excessivamente, que a recessão acabará no segundo semestre deste ano.

A política do governo federal está prejudicando as perspectivas da economia. Ela não fornece os incentivos fiscais necessários para investimentos em fábricas e equipamentos, que foram fundamentais para reanimar a economia na era Kennedy-Johnson e no governo Reagan. Mas os gastos governamentais não podem proporcionar uma recuperação sustentada, porque seu efeito de estímulo será contrabalançado pelo aumento dos impostos e pela necessidade de financiar o déficit.

O rigor da intervenção federal na administração das empresas, dos bancos às montadoras, também vai adiar a recuperação. E iniciativas equivocadas, para ajudar desesperados proprietários de residências, ao permitir que os tribunais estipulem novas condições para o crédito hipotecário, levarão os bancos a limitar os empréstimos hipotecários, o que impedirá que o setor da habitação contribua para a recuperação.

No país persiste a revolta com as operações de ajuda a corporações e a famílias que tomaram decisões financeiras imprudentes e irresponsáveis. Medidas punitivas, como obrigar as companhias a receber os recursos federais para acabar com benesses de funcionários, aumentarão a incerteza quanto ao próximo alvo do governo. Em vez de novas operações de ajuda, precisamos de uma diretriz clara e coerente para a introdução de reformas fundamentais no sistema financeiro.

*William Poole é um membro sênior do Cato Institute, e foi presidente e diretor executivo do Federal Reserve (Fed, banco central americano) da região de St. Louis, de 1998 a 2008.

Volta à normalidade em 2010

Os economistas hesitam em prever o futuro, e com razão. Mas, analisando o nosso declínio econômico, concordamos com duas coisas: não foi da noite para o dia que chegamos a este ponto, e nem poderemos nos recuperar amanhã. Entretanto, para acelerar o processo será preciso tomar algumas medidas – restabelecer o crédito, adotar iniciativas para a criação de empregos, reformar nossa infraestrutura em frangalhos e aumentar a transparência, a fim de podermos avaliar a eficácia dos recursos que gastamos. A boa notícia é que o Congresso e o presidente seguem em frente, conscientes de que ficar parados não resolve nada.

Espero que, como resultado, até o começo do outono (no hemisfério norte) a economia comece a dar sinais de vida, com uma taxa menor de contração econômica e avanços reduzidos mas visíveis, em áreas como vendas de automóveis e mercado imobiliário. Até o fim do ano, talvez cheguemos a ver algum crescimento, e meses mais tarde, ganhos no emprego. Do início a meados de 2010, os bancos, ao se recuperarem, começarão a emprestar, e um progresso maior ocorrerá quando os consumidores tirarem vantagem das oportunidades únicas que esse colapso poderá proporcionar. Afinal, os americanos adoram uma pechincha.

Evidentemente, no longo prazo enfrentaremos os desafios mais importantes. O plano de estímulo, baseado na expansão das tecnologias do século 21, como a banda larga para todos, sistemas de informações sobre saúde e energia limpa, bem como investimentos em educação, constitui um projeto para este futuro.

Por isso, não deve surpreender que eu também acredite que a internet será um elemento crucial da recuperação – um mercado de trabalho aberto onde as pequenas empresas e as start-ups poderão se colocar no mesmo nível de companhias já estabelecidas. Na próxima década, poderemos alcançar o crescimento sustentado administrando nossa capacidade tecnológica e oferecendo oportunidades online (e offline) aos mais empreendedores.

*Eric Schmidt é o presidente do conselho e diretor executivo da Google.


Uma crise comum

A crise financeira da atualidade é a maior da história recente, quer pelo parâmetro de sua rapidez e da escala das perdas em termos de capital, quer pelo alcance global. Entretanto, vista de outra perspectiva, ela é surpreendentemente comum, e segue o mesmo esquema de dezenas de bolhas anteriores.

Embora os aspectos de cada ciclo sejam diferentes, os processos básicos permanecem constantes. Na fase de expansão, a inflação de ativos e a criação de crédito formam um fenômeno deploravelmente denominado de “círculo virtuoso”, que eleva os preços dos ativos e o estoque da dívida a níveis insustentáveis. Vem então o momento Minsky (do economista Hyman Minsky), em que o círculo virtuoso descamba para um círculo vicioso de contração do crédito e de deflação dos ativos.

Suponhamos que a magnitude e a duração da fase de correção do crédito reflita a fase da inflação do crédito. Então, quando começou a bolha do crédito? Por um lado, podemos apontar para meados da década de 80, quando a taxa de poupança das famílias americanas começou a declinar quase anualmente. Se nos concentrarmos somente na recente expansão dos empréstimos hipotecários e no sistema bancário paralelo, concluiremos que o ciclo começou mais perto da virada do milênio.

Se nos pautarmos pelo primeiro parâmetro, observaremos duas ou três décadas de reajuste. Se nos basearmos no segundo, provavelmente estamos ainda nos estágios iniciais da correção do crédito, o que significa que, embora a recessão técnica possa acabar até o fim do ano, o ciclo mais amplo do crédito provavelmente continuará constituindo um obstáculo considerável para a atividade econômica na próxima década.

*George Cooper é o autor de The Origin of Financial Crises: Central Banks, Credit Bubbles and the Efficient Market Fallacy (Origem das crises financeiras: os bancos centrais, as bolhas do crédito e a falácia da eficiência do mercado).

 

Nossa grande recessão

Esta recessão, que começou em dezembro de 2007, já durou mais do que a recessão pós-guerra comum. Se ela se revelar tão ruim quanto o mais prolongado dos declínios pós-guerra, chegaremos ao fundo do poço no mês que vem.

Mas suspeito que estejamos agora vivendo algo mais parecido com uma Grande Recessão. Ela não produzirá uma queda tão aguda na produção americana quanto aquela provocada pela Depressão, mas pode durar tanto quanto esta.

A depressão que começou em agosto de 1929 só chegou no seu ponto mais baixo 43 meses depois. A crise que começou em 1873 foi menos profunda, mas durou 65 meses. Se a economia continuar em contração durante tanto tempo, não começaremos a sair deste buraco antes de maio de 2013.

Será possível? Esta é uma crise de dívidas excessivas, o fim da Era da Alavancagem. Serão necessários mais do que alguns meses para resolver a insolvência dos bancos e dos lares, especialmente com o preço dos ativos caindo contínua e rapidamente. Mesmo com a taxa básica de juros próxima do zero e com imensos déficits, o Japão viveu uma “década perdida” nos anos 1990 – e isso enquanto o resto do mundo estava em boa situação econômica. Esta recessão está ocorrendo enquanto o resto do mundo se encontra numa situação ainda pior do que a dos Estados Unidos.

O colapso do comércio conforme evidenciado pelos números das exportações do Leste da Ásia é aterrorizante.

Lembre-se, até o ponto presente da recessão atual tivemos apenas dois trimestres consecutivos de PIB em declínio. No momento, acho fácil imaginar dois anos consecutivos de contração. E eu não descarto outros dois anos magros depois disso.

*Niall Ferguson é professor em Harvard e autor de The Ascent of Money: a Financial History of the World.


Jogando dados

As recessões acabam, e esta também vai acabar. Mas a triste verdade é que a probabilidade de você sair de uma recessão após estar nela é quase a mesma a cada mês – cerca de 8%. É como se Deus jogasse dois dados por mês, e a recessão acabaria quando ele lançasse um 10.

Estamos, inquestionavelmente, numa profunda recessão. De acordo com um modelo criado por um de nós, que baseado em recessões passadas provou ser bastante útil, as possibilidades de estarmos numa recessão em março é de 92%, em abril 85% e assim por diante.

Muitos dos indicadores-chave parecem similares aos já observados anteriormente. A queda do nível de emprego está acima da média de recessões passadas, mas menor do que nas retrações da economia de 1960-61 e 1981-82. A produção industrial e as vendas do comércio e manufatura também caíram mais do que a média, mas não tanto quanto na recessão de 1973-74, quando o tombo foi de 14%. E o encolhimento da renda pessoal ficou abaixo da média de recessões anteriores, apresentando uma tendência de alta no último trimestre de 2008. Assim os livros de história nos dão esperança.

A boa notícia é que as possibilidades desta recessão durar até o quarto trimestre de 2009 estão abaixo de 50%. Mas os dados serão jogados a cada mês, e poderemos ter a sorte e escapar deles mais cedo – ou não, nos vermos presos na inatividade.

*Marcelle Chauvett é professora de economia da Universidade da Califórnia, em Riverside, e Kevin A. Hassett é diretor de estudos de política econômica no American Enterprise Institute.

 

Regra dos quatro

Quando nossos problemas financeiros começaram, os analistas procuraram consolar-se com a ideia de que a mais prolongada recessão americana, desde a 2ª Guerra, durou 16 meses, e, em média, nossas recessões duraram menos de um ano. Mas como a atual contração já se encontra no 15º mês, fomos forçados a analisar antecedentes piores.

Entretanto, o cálculo dos meses do declínio é um indicador muito pequeno das atuais dificuldades. Um parâmetro melhor é o tempo que a economia leva para voltar ao nível da renda per capita no pico anterior.

Depois das mais graves crises do sistema bancário em todo o mundo, no período posterior à guerra, a economia levou em média quatro anos para voltar ao pico anterior da renda pessoal. Depois da Depressão, os EUA levaram nada menos que dez anos.

*Carmen M. Reinhart é professora de Economia da Universidade de Maryland.

Curva em L

No ano passado, houve um debate sobre a duração da recessão entre os que argumentavam que ela teria o formato de um V – estendendo-se apenas por cerca de oito meses, como as de 1990 e de 2001 – e aqueles, como eu, que argumentavam que duraria pelo menos três vezes mais, 24 meses, e será mais de três vezes mais profunda do que as duas anteriores.

Hoje, ao ingressarmos em seu 15º mês, é óbvio que já nos encontramos numa recessão com formato de U, que se tornou global e durará pelo menos até o fim do ano – 24 meses, a mais prolongada desde a Grande Depressão. Mesmo que o PIB cresça em 2010, é provável que esse aumento não supere 1%. E a esta taxa, com a do desemprego aproximando-se dos 10%, ainda nos encontramos numa recessão.

Mesmo que seja adotada uma adequada política agressiva – estímulo monetário e fiscal, limpeza dos bancos e restauração do crédito, redução da dívida hipotecária para famílias insolventes -, a taxa de crescimento não chegará perto dos 2% até 2011. Portanto, esta recessão durará talvez 36 meses.

E a situação poderá piorar. Atualmente, temos uma chance em três de que, se não forem adotadas as medidas adequadas, esta feia recessão em U poderá se tornar uma quase depressão em L ou estagflação (uma combinação mortal de estagnação econômica e deflação dos preços), como a que o Japão experimentou na década de 90 depois que suas bolhas imobiliária e acionária estouraram.

*Nouriel Roubini é professor de Economia da Escola Stern de Administração de Empresas da Universidade de Nova York, e chairman de uma empresa de consultoria econômica. 

*Publicado em fevereiro de 2009 (tradução: O Estado de S.Paulo)