Simplesmente impecável o artigo do jornalista Merval Pereira Filho, em O Globo, analisando a patética situação em que se meteram os críticos do Supremo Tribunal Federal após a condenação dos réus do mensalão. Começou com o ministro da Justiça dizendo que preferiria morrer a ficar num presídio brasileiro, assim, candidamente, como se não fosse ele próprio o chefe do ministério a quem cabe cuidar dos presídios. Na sequência, o já celebre ministro Lewandowski anunciando que “não há vagas” nos presídios para abrigar os condenados do mensalão e que, por isso, o STF deveria reduzir suas penas à mera prisão domiciliar. E culminou com o distinto ministro Dias Tóffoli dizendo que as punições aplicadas lembram os tempos da Inquisição e que os réus cometeram “apenas” desvios com intuito financeiro, não atentaram contra a democracia. “Era o vil metal”, tentou argumentar, defendendo a troca das penas de prisão pela devolução dos valores desviados.

Ou estamos ficando loucos, ou essa gente insiste em debochar da nossa cara. Sempre aprendi que aos cidadãos cabe cumprir as leis e respeitar as decisões da Justiça; sendo uma decisão da maior corte do país, então, o respeito é mais do que obrigatório; e sendo uma decisão colegiada, após anos examinando os autos, com sessões abertas diante das câmeras de TV e os acusados tendo amplo direito de defesa, ninguém deveria sequer demonstrar a desfaçatez de questionar. Mais ainda os próprios ministros do STF. Suas atitudes equivalem às de times de futebol que, derrotados em campo por um adversário tecnicamente superior, se põem a reclamar da arbitragem.

A metáfora com futebol não é casual. Desde que a política brasileira foi transformada em cenário igual ao da briga entre torcidas organizadas, onde não há inocentes, admite-se de tudo. Até mesmo juízes do Supremo comportando-se como advogados de defesa. Lewandowski e Tóffoli, por seu passado ligado a líderes e entidades petistas, teriam honrado as próprias biografias se se declarassem impedidos de votar no processo do mensalão. Provavelmente bem remunerados, optaram pelo oposto. E nem admitem acatar a decisão do próprio tribunal do qual fazem parte – aonde chegaram, por sinal, justamente pelos braços do PT.

Uma democracia de verdade, sem adjetivos, só pode ser construída com respeito às decisões da Justiça, ainda quando contrárias aos interesses deste ou daquele grupo. Essa é uma verdade tão clara que nem deveria ser discutida. Nos Estados Unidos, por exemplo, dois chefes militares estão tendo suas vidas particulares investigadas pelo FBI, após confessarem ter cometido o “crime” de adultério (nessa prática, podem ter deixado escapar segredos de Estado). Após a revelação, foram sumariamente demitidos pelo presidente da República, que não fez mais do que sua obrigação. No Japão e na Alemanha, membros do governo e empresários importantes, quando flagrados em atos ilícitos, vão à TV para pedir desculpas; alguns chegam a chorar, e há até os casos trágicos daqueles que se suicidaram diante das câmeras.

No Brasil, assistimos a ministros, juízes e governantes se lixarem para as leis, também diante das câmeras. A explicação só pode ser uma: o vil metal.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *