Max Smart era o nome do personagem criado por Mel Brooks e Buck Henry para uma série de televisão que, nos anos 60, satirizava os filmes de espionagem à la 007. No Brasil, chamava-se Agente 86 (vejam aqui um trailer), em Portugal Olho Vivo, mas o título original era um trocadilho primoroso: Get Smart, que tanto pode ser  “pegue Smart” quanto “fique inteligente” ou “fique esperto”. 

A série – que já rendeu vários filmes de cinema, o último deles estrelado por Steve Carrell em 2008 – inovou no uso “smart” da tecnologia para solucionar os casos mais malucos que Max encontrava. Seus criadores, porém, não imaginavam que aquelas cinco letras serviriam, 50 anos depois, para adjetivar quase tudo. Hoje, como estamos vendo mais uma vez aqui na CES, “o mundo é smart”!

A foto ao lado é só mais um exemplo. A indústria apoderou-se da palavra de tal forma que até a água que bebemos pode ser, em certo sentido, “inteligente”. Diz a embalagem que o fabricante coleta água da chuva (“absolutamente pura”) e faz um tratamento à base de eletrólitos – não sei se faz bem ou faz mal; difícil levar isso em consideração quando a sede aperta no meio do deserto, como aqui em Vegas.

Não será possível percorrer os oito prédios em que se espalham os 4.500 expositores da CES este ano. Precisaríamos de um mês!!! Mas, pelos materiais distribuídos à imprensa até agora, é fácil cravar que “smart” será a palavra mais repetida. Vai de smartphones e smart TVs a aparelhos de musculação, que só faltam fazer os exercícios em nome do atleta; colchões que monitoram seu sono e movimentos na cama (sim, depois enviam tudo para seu médico); relógios, brinquedos, carros, muitos carros, e um quilométrico etc.

Self-driving é como a CES chama um novo espaço da feira destinado às montadoras de automóveis. A lista poderia estar tranquilamente na revista Quatro Rodas: Honda, Toyota, Ford, Mercedes, BMW, Hyundai, Kia… todas prometem demonstrações de veículos, como se diz mesmo?, ah! sim, smart. Estacionam sozinhos, reduzem a velocidade quando um radar se aproxima, encontram os melhores caminhos no trânsito, evitam colisões, fazem buscas na internet, abrem sozinhos o portão da garagem. Vêm com tal quantidade de dispositivos e sensores que é de se perguntar para quê precisam de motorista. 

O termo self-driving (que no Brasil se costuma traduzir por “veículos autônomos”) se aplica também aos drones, outra atração desta CES. Não surpreende, portanto, que uma montadora desconhecida (Pal-V, da Holanda) esteja anunciando passeios com um flying-car (isso mesmo, carro voador) que os visitantes da feira poderão experimentar. 

Se este fosse um blog filosófico, poderia questionar como a tecnologia consegue tornar inteligente até um brinquedo desses sem produzir, que se saiba, nenhum efeito “smart” sobre a cabeça dos seres humanos. Mas essa é outra discussão.

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