cocorico5Sempre que alguém quiser contar a história da televisão brasileira, terá que abrir um capítulo destacado para a TV Cultura de São Paulo. Mais de 44 anos após ir ao ar pela primeira vez (junho de 1969), a emissora percorre há pelo menos quatro anos uma trajetória descendente que já preocupa até quem nunca teve maior envolvimento com a Fundação Padre Anchieta (FPA), responsável por sua manutenção. Começa a surgir, ainda tênue, um movimento em defesa da Cultura. E é bom que avance logo, pois trata-se de uma empresa em estado semiterminal.

Na semana passada, o novo presidente da FPA, Marcos Mendonça, anunciou uma medida que poucos achavam ser possível: extinguiu o Departamento Infantil, que nas últimas décadas elevou o padrão de qualidade da emissora, deu-lhe inéditos números de audiência e uma série de prêmios internacionais. Produções como Castelo Rá-tim-bum, Cocoricó, Bambalão e Vila Sésamo até hoje não encontraram equivalentes na televisão brasileira, mesmo entre as emissoras privadas. Confesso que é preciso muita coragem para jogar fora um patrimônio desses…

A alegação (“redução nas despesas”) é a mesma que vem sendo usada desde a gestão anterior, presidida pelo ex-ministro João Sayad, com resultados desastrosos. Ao assumir, Sayad desmontou toda a estrutura existente, acabando com programas tradicionais, descaracterizando outros e não criando nada que vá ser lembrado com saudades. Agora, seu sucessor, Marcos Mendonça, recorre à mesma política, com idêntica falta de imaginação!

Certamente falta dinheiro por lá. E não é de hoje: as gestões José Serra e Geraldo Alckmin no governo do Estado adotaram como política deixar agonizar a FPA. A meu ver, um erro grotesco, que talvez seja cobrado pelos eleitores em 2014 (certamente será explorado pela oposição). Mas, como sabe qualquer empresário ou executivo, falta de dinheiro não pode ser pretexto para falta de criatividade; antes, deveria servir de estímulo a, pelo menos, preservar um patrimônio que toda a população reconhece e admira.

Diz o site Notícias da TV que a emissora já gastou 90% do orçamento previsto para este ano. Nesse ritmo, não conseguirá chegar ao final do ano! Funcionários vêm sendo demitidos aos poucos, quase todos os dias, sem nenhuma declaração da diretoria sobre possíveis medidas para reverter o quadro de desastre. É mais uma empresa pública sem a menor transparência. Agora, pensando bem, se a Cultura fosse uma empresa privada, seria o caso de se perguntar: por que acabar com seu único produto que tem a unanimidade nacional? Será que é para fechar as portas de vez?

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