Geralmente criticamos aqui a Anatel. E muito. Como órgão encarregado de fiscalizar o mercado de telecomunicações, a Agência deveria ser mais ágil e transparente em suas atividades. A prática das consultas públicas é saudável, mas insuficiente: como já sugeriu inúmeras vezes Emilia Ribeiro, uma de suas mais atuantes conselheiras, o usuário tem direito de saber como e por que são tomadas as decisões ali dentro, que sempre acabam tendo consequências no seu dia-a-dia.

Criticar a Anatel, assim como as demais agências reguladoras, é não só importante como necessário. Mas elogiar também. Tomara que siga em frente a ideia – revelada pelo site Tela Viva – de exercer melhor fiscalização sobre a qualidade do sinal distribuído pelas operadoras de TV paga. Como sabem todos os assinantes, som e imagem dos diversos canais variam com tanta constância que nem parecem estar vindo de uma mesma fonte, ou seja, o head-end da operadora. Isso ocorre porque os sinais são processados, e na maior parte dos casos comprimidos, antes de serem enviados à residência do assinante. No projeto de regulamentação da lei 12.485, aprovada em setembro, técnicos da Anatel estão sugerindo proibir que a operadora discrimine a qualidade dos canais. Significa que o assinante deverá receber exatamente o mesmo sinal original fornecido pela programadora, não importa qual seja o seu pacote ou a sua operadora.

É, de fato, um tema complicado. Os contratos entre operadoras e programadoras são verdadeiras caixas pretas, aos quais poucos têm acesso, onde geralmente vale mais o peso da empresa mais forte. Exemplificando: se você é assinante da Net e tem um vizinho que assina Sky, e ambos forem assistir a um filme do canal Warner, o som e a imagem desse filme devem ter na sua casa a mesma qualidade com que chegam à casa de seu vizinho. Essa qualidade é definida pela Warner, que envia o filme para as duas operadoras. Estas, no entanto, trabalham com equipamentos diferentes e utilizam métodos de compressão de sinal também variáveis, pois não há uma padronização nesse sentido.

A proposta da Anatel é que a operadora se obrigue a garantir que a qualidade do sinal não será alterada, algo que infelizmente nem sempre acontece hoje. Dependendo de sua relação com a programadora, uma operadora pode privilegiar determinado programa, em prejuízo de outro que está sendo transmitido naquele mesmo horário em outro canal. O problema já foi levantado por emissoras abertas, em sua eterna disputa de mercado com a TV fechada. Alegam que, na retransmissão, as operadoras utilizam taxas de compressão muito altas, a ponto de o assinante receber um sinal de pior qualidade do que quem assiste à TV aberta.

É bom deixar claro que a compressão é necessária para atender a todos os assinantes, caso contrário a rede não suportaria e o sinal não chegaria para ninguém. Tanto as redes de cabo quanto as de satélite hoje são robustas o suficiente para garantir uma boa qualidade de transmissão e recepção. De qualquer forma, isso precisa ser fiscalizado. E essa é, sem dúvida, uma das obrigações da Anatel. Vamos ver se a ideia será aprovada.

7 thoughts on “Anatel e a compressão do sinal

  1. Eu não sabia disso, mas já que acabei sabendo, peço para que a ANATEL aproveite a oportunidade (a de deixar seu relacionamento com nós – usuários – um pouco melhor) e defina o mais breve possível o que pode e o que não pode fazer.

  2. Sou assinante de uma operadora de TV por satélite e já havia percebido este fato. Em casa , por exemplo, a Globo entra com uma qualidade boa, já o canal “Discovery Science”, entra com uma qualidade excepcionalmente ruim. Já que a ANATEL está com a “mão na massa”, poderia também aproveitar e disciplinar questão das propagandas. Na maioria dos canais pagos há tantas que a gente até se desinteressa em assistir a programação.

  3. A culpa dessas disparidades atribuo a nós mesmos! Infelizmente, ainda não aprendemos a nos educar no sentido de valer os nossos direitos e cobrarmos tanto do governo quanto das empresas que nos vendem serviços. Quando isto acontecer, espero que aconteça, vamos fazer valer o nosso dinheiro e ter a dignidade do Resto Do Mundo!

  4. Parabéns, Barroso, por abordar esse assunto. Já reclamei muito com a NET e eles jogam a culpa na programadora mas eu já sabia que depende, realmente, da operadora e cheguei até a cancelar um pacote de futebol por conta da péssima imagem que eles liberam para nós, pobres e indefesos assinantes.Mandaram até um técnico para ver se eu tinha algum problema técnico, imagine! Nesse ponto estamos, realmente, sem proteção alguma da ANATEL que, espero, ataquem esse problema.

  5. Ótimo assunto para abordar e debater. No Brasil a fiscalização costuma ser frágil. Somos um país de leis fortes e gestos brandos. De nada adianta um Código de DEFESA do Consumidor se os órgãos reguladores e responsáveis pela fiscalização afrouxam para quem detém o poder e aufere o lucro de sua atividade comercial. As operadoras já ganham rios de dinheiro com as assinaturas nos preços cobrados (em lugar nenhum do mundo é assim – e não se venha com a cantilena de “custo Brasil”, pois a carga tributária não é a única responsável). Pagamos e pagamos muito caro pelos serviços. Nada mais natural que as prestadoras sejam cobradas pela qualidade dos mesmo. Já não era sem tempo. Abraço.

  6. Ontem instalei o Decoder HD da Via Embratel no meu Home Theater e descobri que apenas um canal (Multishow HD) transmite o som em DD 5.1 (6 canais), todos os outros canais o som era apenas stereo (2 canias). Até mesmo filmes que passam na HBO HD, que logo no inicio diz que o som é 5.1, na verdade são repassados pela Via Embratel com apenas 2 canais.
    Ou seja, não é só a qualidade da compressão de imagem, até mesmo a quantidade de canais de som nos canais HD são modificadas.
    Queria saber se na NET e Sky é dessa forma também.
    Um abraço

  7. Olá Bruno, a qualidade de som e imagem dos canais é de responsabilidade da operadora, que pode fazer ajustes nos sinais. Infelizmente, não há padronização, muito menos regulamentação por parte da Anatel. Tanto Net quanto Sky já transmitem vários conteúdos com áudio 5.1. Abs. Orlando

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