Interferências do 4G na TV Digital*

A introdução dos sistemas de banda larga móvel 4G/LTE na faixa de frequência de 700 MHz poderá causar interferências prejudiciais em milhões de televisores, caso medidas adequadas de mitigação não sejam adotadas. A conclusão foi feita a partir de testes realizados durante sete meses pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, a partir de um convênio realizado com a Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET), e revelado hoje pela entidade, que também divulgou as principais medidas preventivas para evitar prejuízos de telespectadores e emissoras de TV.

Segundo o estudo, realizado pelo Laboratório de TV Digital da universidade e já submetido ao Ministério das Comunicações e à Anatel, a interferência prejudicial no caso da recepção de TV digital significará interrupção na recepção da programação, imagens congeladas ou tela negra. “Em todos os países que iniciaram a regulamentação para operação do serviço móvel celular em faixa adjacente à de televisão, as questões de interferência entre os serviços estão no cerne das discussões”, afirma Olímpio José Franco, Presidente da SET.

A Resolução 625/2013 da Anatel estabeleceu que o 4G/LTE ocupe a  faixa de frequência de 698 a 806 MHz, que ficou conhecida como a faixa de 700 MHz, adjacente à de 470 a 698 MHZ que continua destinada no Brasil à TV aberta. Essa mesma resolução especifica parâmetros técnicos demasiado brandos para assegurar a convivência, porém vincula a licitação da faixa de 700 MHz, prevista para este ano, ao estabelecimento de um regulamento para a resolução das situações de interferências prejudiciais.

“Os resultados obtidos nos testes realizados pela Universidade Mackenzie mostram que, nos casos críticos, para preservar a qualidade da recepção do sinal de TV, é necessária uma combinação de diversas medidas de mitigação. Entre elas, alterações das antenas, adição de filtros nos televisores e nos transmissores LTE”, informa o presidente da SET.

Principais medidas

Além dos testes realizados, a Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET) vem estudando o tema da interferência e acompanhando os trabalhos na UIT e em outros países. Em 2013, trouxe para o Minicom e a Anatel uma rica interação com empresas e entidades reguladoras da França, Reino Unido, Japão, Austrália e Alemanha. Também promoveu dois seminários de grande profundidade técnica, que contaram com a participação do Ministério das Comunicações do Japão, do Minicom e da Anatel.

Toda essa atividade da SET levou a entidade a concluir que será necessária a revisão das especificações da Resolução no 625/2013 da ANATEL com a adoção de envoltórias mais rígidas, com limitações das emissões espúrias para propiciar a introdução da banda larga móvel em UHF sem causar um “apagão” de milhões de residências que dependem da TV aberta. Além disso, para não reduzir adicionalmente os canais destinados à televisão aberta, torna-se necessário aumento de banda de guarda entre os dois serviços.

Segundo a entidade, caberá também à Anatel criar requisitos técnicos e impor obrigações às operadoras de telecomunicações na operacionalização de medidas de mitigação que evitem as interferências sobre as recepções de sinais digitais dos televisores dos telespectadores.

Entre as medidas propostas pela entidade para permitir a convivência do 4G/LTE e da TV digital em faixas adjacentes está a revisão dos sistemas domésticos de recepção de TV, em sua ampla maioria frágeis e antigos. “A necessidade de reformular o parque doméstico de antenas de recepção implica em custos expressivos, que ainda precisam ser calculados, e num enorme desafio logístico. Também impõe aos profissionais da SET a responsabilidade de apoiar o desenvolvimento de profissionais e a especificação de equipamentos adequados a essa tarefa”, observa Franco.

Clique aqui para conferir o relatório sobre os testes de interferência do sinal LTE na recepção de TV Digital aberta (faixa de UHF). E aqui para ver a íntegra dos testes realizados pela Universidade Mackenzie.

*Texto distribuído pela SET em 13/02/2014