A venda da rede Ponto Frio ao Pão de Açúcar, que já comentamos aqui, significa um marco na evolução do varejo brasileiro. Além de resultar na maior empresa do setor (com R$ 26 bilhões de faturamento, pelos dados de 2008), certamente terá impacto sobre todo o mercado. Evidentemente, é impossível saber se vai dar certo, mas desde já irá provocar mudanças de comportamento, tanto no consumidor quanto na concorrência, que terá de se reposicionar.

Este artigo, publicado na revista Exame, dá algumas coordenadas, embora erre ao afirmar que um dos motivos da entrada do Pão de Açúcar com mais força no segmento de eletrônicos seria que este oferece margens de lucro mais altas. Não é verdade. As margens são bem mais altas no setor de alimentos; eletrônicos, no mundo inteiro, servem para dar status à loja e atrair mais tráfego.

De tudo que foi publicado a respeito nos últimos dias, destaco aqui algumas das informaçõs e declarações mais interessantes dos envolvidos:

*O Pão de Açúcar passa a ter mais de 1.200 lojas espalhadas por 18 estados, com cerca de 79 mil funcionários.

*Até final de maio, tudo conduzia à venda do Ponto Frio para o Magazine Luísa, que havia feito a melhor oferta; no final, porém, dona Lily Safra sentiu-se mais segura em fazer negócio com Abilio Diniz.

*Embora o preço inicial fosse de R$ 1,5 bilhão, nas negociações Diniz conseguiu baixar para R$ 824,5 milhões, pagos em duas parcelas: R$ 373 milhões à vista e o restante em ações, com garantia contra desvalorização.

*O Pão de Açúcar tem 30% de seu capital nas mãos de acionistas minoritários. O restante é dividido em partes iguais entre Abilio Diniz e o grupo francês Casino, em acordo que vigora até 2011.

*No Brasil, existem hoje 100 empresas que controlam 9000 pontos de venda no setor eletroeletrônico. As dez maiores são donas de 4000 lojas.

*”Há cinco anos sonhávamos em entrar no setor de eletroeletrônicos, mas só agora apareceu uma boa oportunidade. Esses produtos são indutores de vendas. Além disso, com a volta do crédito e o estímulo à construção civil, o setor tem ótimas perspectivas” (Abilio Diniz).

*”Vamos economizar cerca de R$ 500 milhões com a sinergia entre as duas empresas, incluindo ganhos de escala, parcerias com fornecedores, união dos centros de distribuição e de serviços financeiros” (Claudio Galeazzi, presidente executivo do Grupo Pão de Açúcar).

*Logo depois de anunciado o negócio, a Casas Bahia fechou a compra da rede baiana Romelsa, com 17 lojas, aumentando ainda mais sua liderança no varejo de eletrodomésticos e móveis.

*”Não quisemos comprar o Ponto Frio porque o mercado do sul e sudeste está estagnado. Preferimos o nordeste, onde estão as maiores chances de crescimento” (Michael Klein, presidente da Casas Bahia).

*No mercado brasileiro atual, 85% dos consumidores compram seus equipamentos em lojas especializadas. Somente 10% preferem fazê-lo em hipermercados.

*”Ao voltar à área de eletromóveis, que tem margens operacionais mais baixas, o Pão de Açúcar ganha a oportunidade de crescer no crédito e de diversificar sua receita”. (Eugenio Foganholo, da consultoria Mixxer, especializada em varejo).

*”Essa aquisição irá contrabalançar a liderança muito destacada da Casas Bahia no setor”. (Juraci Parente, do centro de excelência em varejo da FGV).

*”As três partes ganharam: os acionistas tiveram a liquidez que queriam, o Pão de Açúcar conseguiu atender a estratégia de buscar a liderança na área e o Ponto Frio passa a ter a vantagem de pertencer ao grupo que entende do setor”. (Manoel Amorim, presidente do Ponto Frio).

*“Ninguém entra numa briga desse tamanho para ficar em segundo lugar” (Adriano Gomes, professor da ESPM).

*“A concentração e a concorrência nesse mercado estão cada vez mais acirradas. É inevitável que outras aquisições aconteçam” (Carlos Clur, diretor da Eletrolar Show).

 

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