São Paulo, 10 horas da manhã: tudo começa a parar! Nada de anormal para uma sexta-feira. Saio de casa apressado, como sempre, mas o trânsito não anda. E nem adianta reclamar. O rádio informa que está apenas começando mais uma passeata, esta organizada pela Força Sindical, com apoio do MST, em defesa da redução da jornada de trabalho, que está para ser votada no Congresso. Em princípio, um movimento justo, certo?

Errado. Passando de carro próximo ao local da manifestação (Avenida Paulista), vejo dezenas ou até centenas de pessoas uniformizadas caminhando pelas calçadas em direção ao “epicentro” do protesto: o prédio do MASP. Tudo está programado para chegar ao auge de participação entre 13 e 14hs. São pessoas alegres, andando como se estivessem indo a um show ou um jogo de futebol. E, pensando bem, é disso que se trata mesmo: um show, um grande espetáculo. Muitos estão sendo pagos para participar. Aproveitando que lá estão, são chamados pelos alto-falantes a protestar também contra a crise econômica, os lucros absurdos dos bancos e até a situação política em Honduras! Não sei quanto ganham, mas considerando a quantidade de eventos desse tipo ultimamente na cidade, devem estar tirando uma bela remuneração. Tornaram-se assim profissionais de passeata, ou “passeateiros”.

O que há de ruim nisso? Pode-se argumentar que se trata de mais uma forma de se ganhar uns trocados para driblar a crise. Sim, é possível raciocinar dessa forma. Mas esse, digamos, bico traz prejuízos a milhares de pessoas que nada têm a ver com o MST nem com a Força Sindical, entidade milionária que, como a CUT, vive do dinheiro que é descontado dos salários de milhões de trabalhadores que nem sabem onde fica sua sede. E que, há alguns anos, vive também de repasses do governo federal, que por sua vez retira isso dos contribuintes, isto é, nós todos que acabamos parados no trânsito…

Mais ainda: essas manifestações ocorrem sempre no eixo da Av. Paulista, onde se localizam pelo menos cinco grandes hospitais da cidade. E habitualmente às sextas-feiras, num convite para enforcar o trabalho e emendar o fim de semana. Um incentivo, portanto, ao atraso do País. É assim que querem reduzir a jornada? Que tal perguntar aos trabalhadores: você toparia aumentar sua jornada em 20% em troca de um aumento de salário de 30%? Está aí uma boa pesquisa que essas entidades poderiam fazer. Poderiam, se quisessem mesmo resolver os problemas do desemprego. Seria bem mais fácil. Não atrapalhariam a vida de ninguém que anda pela cidade, nem precisariam mandar confeccionar uniformes de passeata.

O único problema: os passeateiros não iriam gostar!

2 thoughts on “Profissionais do atraso

  1. Pois é Orlando, eu que ando (andava né, agora não pode mais) de ônibus fretado pela cidade já fiquei parado quase 4 horas na Paulista por conta de manifestações do tipo. E haja hipocrisia por parte desses caras, pois desde quando um trabalhador de verdade tem tempo livre para ficar fazendo passeata em plena sexta-feira, em horário comercial?
    É muita cara-de-pau desse pessoal da CUT e MST falar em redução da jornada de trabalho…acho que eles nunca trabalharam na vida!E depois reclamam do desemprego.
    Como é duro trabalhar e ganhar a vida honestamente no Brasil,tendo que sustentar nossos lares e esse monte de vagabundos ao mesmo tempo!

  2. Até a década de 70 havia uma “queda de braço” entre o capital e o trabalho(entenda-se força de trabalho)com o segundo levando pequena vantagem;era uma época de pleno emprego na qual em muitas empresas, o funcionário que apresentasse um conhecido e este concordasse em trabalhar na mesma,o apresentante recebbia um bônus em dinheiro pela proeza.Era a época do “milagre econômico” e do “Amazônia,integrar para não entregar” em que o Governo incentivava a procriação desenfreada com a finalidade de povoar a Amazônia e evitar sua tomada pela comunidade internacional.O povo rápidamente atendeu a recomendação e procriou “sem culpa”, aumentando a população de 90 milhoes em 1970 para cêrca de 200 milhoes nos dias de hoje.Ocore que como tudo o que existe em demasia,o ser humano perdeu valor e isso fica patente no desrespeito que todos tem para com todos e até para consigo próprios.Nesse estado de coisas é de se esperar que meia dúzia de pessoas que querem trabalhar menos,parem uma cidade inteira sem se importar nem por um instante se outros serão prejudicados pelo seu “movimento”,se uma ambulância deixará de chegar ao hospital a tempo de salvar o doente.Olha apenas para o própro umbigo.E isso vai piorar muito…

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