Uma diferença fundamental que sempre observei viajando para fora do Brasil é o tratamento que se dá aos jornalistas. Ser representante de um jornal ou revista, mesmo que não sejam muito conhecidos, tem no chamado Primeiro Mundo um peso que raramente se dá em nosso país. Não se trata de privilégio, até porque existem muitos profissionais de mídia que não se dão ao respeito, e não apenas no Brasil. Jornalista não é, nem pode ser, uma casta especial, imune a críticas e até investigações, quando é o caso. Mas esse tratamento diferenciado tem a ver com o respeito que a imprensa inspira nos países democráticos, onde está firmado há séculos o conceito defendido por Thomas Jefferson: melhor uma imprensa ruim do que imprensa nenhuma!
E por que faço essa introdução meio filosófica? Simples: parece que aqui na CES os jornalistas não estão mais merecendo o respeito que tinham antes. A sala de imprensa do evento continua sendo a mesma desde que comecei a freqüentar, nos anos 80. Mudou o visual, é claro, com todos os computadores disponíveis e, em geral, cada jornalista trazendo seu laptop e seu smartphone. Mas continua sendo um espaço acanhado e, pior, sem recursos básicos de comunicação que uma cobertura como essa exige. A conexão WiFi é lenta e cai a toda hora, e não há linhas cabeadas; o número de assentos é ínfimo, como se estivéssemos num eventozinho de interior. Incrível que não tenham conseguido (ou tentado) o patrocínio de uma das gigantes de informática ou telefonia que participam do evento, para equipar melhor o espaço destinado à mídia – calcula-se em mais de 5 mil profissionais presentes em Las Vegas esta semana.
Fui questionar um funcionário da organização e a resposta, embora lógica, me deixou perplexo: a culpa é dos blogueiros. Eles são tantos, e estão se multiplicando feito formigas, que a estrutura de apoio já não dá conta. E, como todos usam conexão de alta velocidade, a rede acaba ficando lenta ao ser compartilhada. Sim, faz sentido. O que não faz sentido é estarmos no mais importante evento de tecnologia do mundo e termos que brigar por espaço com um colega da Áustria ou da Coréia, como aconteceu comigo ontem. Ou atrasar o envio de textos, fotos e vídeos por causa de falhas técnicas!
A sala de imprensa, meu colega coreano e o emaranhado de fios: tecnologia para quê?
Certo, os leitores nada têm a ver com isso. Aliás, desculpem o desabafo. Vejam lá a cobertura que estamos fazendo no hot site da CES 2010 e opinem, comentem. É um trabalho exaustivo, mas muito gratificante. Só não consigo deixar de perguntar aos meus botões: será que os organizadores andaram conversando com alguns políticos e governantes brasileiros?