Reportagem do jornal O Globo neste fim de semana mostra, com certa ironia, como as novas gerações estão lidando com a alta dos preços. Para muitos da minha idade, pode parecer que foi ontem, mas já se vão 25 anos desde que tivemos o Plano Cruzado, em que um super-tabelamento de preços tentou conter a inflação “no grito”. Chegamos a ter índices em torno de 80% ao mês, no auge do governo Sarney (sim, o próprio, que ainda está aí, mandando e desmandando). No entanto, quem nasceu naquela época – final dos anos 80, começo dos 90 – foi salvo pelo Plano Real (1994), que conseguiu barrar a alta desenfreada dos preços. Nos últimos 15 anos, tivemos uma inflação, pode-se dizer, mais ou menos civilizada.

Portanto, quem hoje está na faixa até perto dos 30 anos só agora está conhecendo aquilo que os economistas chamam de “monstro”. Lembro-me que, certa vez, me perguntaram qual era o meu salário e tive que pensar para responder: o holerite mudava todo mês! Íamos ao supermercado para fazer compras de três ou quatro meses, com medo do aumento dos preços. E, como os postos de gasolina não funcionavam nos fins de semana, sexta-feira à noite era dia de enfrentar filas gigantescas para abastecer o carro – na segunda-feira seguinte, os preços já estariam reajustados… Como sabe qualquer um que estudou um mínimo de economia, as maiores vítimas eram as pessoas pobres, cujo salário acabava bem antes do final do mês; os ricos, estes tinham como poupar e fazer render seus depósitos quase na mesma toada dos índices inflacionários.

Sim, a inflação agora (em pleno 2011) é uma ameaça concreta, por mais que ministros e bajuladores em geral digam o contrário. Estudo recente mostrou que o custo de vida na cidade de São Paulo já é superior ao de Nova York. Isso abrange itens tão diversos quanto aluguel, restaurantes, combustível, estacionamento, brinquedos, consultas médicas e, é claro, eletrônicos. Agora mesmo, acabo de ler mais uma estatística revoltante sobre o tema, publicada no jornal paulista Diário do Grande ABC (não vi em outras publicações): conta de telefone (fixo e celular), TV por assinatura, banda larga e até conta de luz, tudo isso é mais caro no Brasil do que na maioria dos demais países.

Diz o estudo que, em 2009, 4,1% da renda média do brasileiro eram usados para pagar despesas com comunicação, porcentagem mais alta do que em 86 outros países. Sobre a banda larga, nem é preciso falar: já comentamos o tema aqui diversas vezes. Mas fiquei espantado com este número: o custo da energia no Brasil (US$ 0,25 por kWh – quilowatt/hora) equivale ao dobro (US$ 0,13) de países como EUA, França, Reino Unido, Suíça e Japão.

Aqueles jovens entrevistados pelo Globo talvez não saibam ainda o que é viver sob inflação. Mas devem saber muito bem quanto custa viver num país rico como é o nosso!

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