Todo jornalista, escritor ou qualquer pessoa que vive de escrever se debate frequentemente com o dilema: como começar? Dar início a um texto, mesmo para quem está acostumado, é talvez o desafio mais angustiante. Depois de iniciado, as ideias parecem fluir com mais agilidade e – quando se tem realmente algo a dizer – se tornam atraentes para o leitor.

Sou daqueles que acham que os verdadeiramente grandes escritores – assim como os grandes compositores, pintores, cineastas etc. – já morreram, ou estão em fim de carreira, quando não decadentes. Deve ser o tal do D.N.A. (Data de Nascimento Antiga)… Mas desconfio que até um Machado de Assis ou Ernest Hemingway teria dificuldade de encarar o mundo multimídia de hoje. Como administrar e assimilar tamanha quantidade de informação chegando pelos mais variados meios? Recebo uma média de dez newsletters por dia, e por dever profissional tenho que pelo menos dar uma olhada em cada uma delas. Outro dia, zapeando pelos canais da TV por assinatura, encontrei tamanha quantidade de atrações interessantes que me flagrei tentando gravá-las todas – como se houvesse memória suficiente no gravador e, pior, como se houvesse tempo para vê-las depois!

Se tablets e smartphones tornam mais fácil o acesso às informações de que precisamos, não há dúvida de que também nos abrem as portas para várias cestas do chamado lixo cultural. Mais grave ainda, a meu ver, é quando tudo vem ao mesmo tempo, tipo enxurrada. Numa das newsletters da semana, descobri, por exemplo, esta pesquisa da empresa britânica Ovum, feita com 8 mil entrevistados em oito países, indicando que 51% deles assistem a televisão e usam a internet simultaneamente!!! Isso mesmo, está aumentando rapidamente o número de praticantes do chamado “multicasting”, mais uma palavra inglesa que será difícil traduzir em português. Seria a arte de fazer várias coisas ao mesmo tempo usando os atuais recursos da tecnologia. Na era das redes sociais, vai se tornando hábito comentar com os “amigos” aquilo que se assiste na TV. Mais: ao ver um conteúdo que lhes interessa na televisão, mais seres humanos correm para a internet, atrás de informações adicionais a respeito.

Bem, “correm” é força de expressão. Essa mudança de hábitos inclui boa dose de sedentarismo. O celular ou tablet deve estar sempre à mão, para essas, digamos, emergências. Nem é preciso levantar do sofá. Dizem os pesquisadores que o assunto já está sendo analisado a fundo pelo pessoal de marketing e publicidade, receoso de que os telespectadores, antes tão passivos e fáceis de atingir com os anúncios tradicionais, deixem definitivamente de prestar atenção na TV. A tendência seria a criação de campanhas combinadas, em que a web irá complementar as mensagens televisivas (quem sabe no futuro ocorra também o inverso…).

Sei não, acho que é muito para minha cabeça. Se já mal consigo dar conta dos emails… Só me resta pedir socorro a Machado de Assis; aliás, tenho quase todos os livros dele, muito bem salvos no meu tablet, para as emergências.

1 thought on “Overdose de informação

  1. Finalmente encontrei mais alguém que passou pelo mesmo problema que eu (ainda) estou passando. É muita informação interessante hoje em dia para a gente pegar. Queremos pegar tudo e nem lembramos de calcular isto. O problema se evidencia quando nos damos conta de que talvez não haverá tempo para ficar checando toda aquela bagagem…
    Como eu sou da área de tecnologia, costumo organizar o meu acervo com ajuda de softwares. Mas ainda assim, tudo o que consigo é reduzir a overdose rss. E gasta-se muito tempo se quiser organizar bem toda a bagagem! E não é só arquivo digital, conto tb livros e revistas em papel.
    Já me dei conta de que só conseguirei ler e praticar toda a minha “BIBLIOTECA SELETA” em torno de uns 10 ou 20 anos. E contratempos surgem não é mesmo? E ainda… temos que pensar em outras coisas da vida além desses materiais que reservamos. Daí, 10 anos acaba se tornando uns 15 ou 20. E 20 pode ser uns 30 ou… 40! Deus! Será q vou ter todos estes anos pela frente para ler tudo o que me reservei? Será que vou ver todos aqueles artigos, apostilas técnicas, livros, imagens, que hoje mantenho gravados tudo em DVD’s? E as músicas em mp3 então? Sem comentário…

    Ok. O fenômeno não é brincadeira nenhuma, especialmente para gente que gosta de informação e vive estudando e aprendendo coisas novas. Mas, por outro lado, enxergo tb uma oportunidade boa. Sabe aquela ideia de que iniciar um site sobre tal negócio não vai dar certo porque já tem muitas opções por aí dentro do mesmo naipe? Pois é. Pode dar certo. Porque todos temos que nos conscientizar do mal daquela overdose, e ver o lado positivo que é ficar restrito a um grupo social onde compartilhamos conhecimento e informações. Precisamos selecionar, dentro de LIMITES, e dentro de uma rede de amigos, o que realmente é mais interessante para nós. Daí acredito q todos nós só precisamos de duas coisas para não sofrer outra overdose: COMPETÊNCIA e AMIZADES. Sejamos bom naquilo que fazemos, e consequentemente construímos amizades no negócio ou mesmo no lazer, e no final teremos muitos clientes e seguidores afiliados. Isto é melhor do que ficar viajando feito louco por aí “selecionando” centenas de links e outros materiais q nos interessa e que achamos que pode ser útil e ajudar o nosso negócio. Vê?

    Ah, mais: Pelo menos no campo artístico, os verdadeiros artistas ainda não morreram. Penso assim porque sou amador e curto muito a arte. Hoje em dia realmente ficou muito mais difícil ser criativo, autêntico, único, enfim, artista. Mas há quem consegue fazer isso em plena era de tanta informação… (e disinformação tb rss). E acredite: se a pessoa consegue fazer isso numa época tão difícil quanto esta, é porque ela é bem capacitada e um verdadeiro artista, talvez, melhor do que um antigo artista falecido.
    Eis aqui um exemplo de site onde se pode testemunhar a criatividade em plena era de overdose de informação: deviantart.com

    Abraço!

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