Uma breve pausa para homenagear Leon Cakoff, o criador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que morreu hoje, vítima de câncer, aos 63 anos. Tive pouco contato com Leon nos anos 80, quando ele tentava vender seu projeto de um festival de cinema no Brasil, em moldes semelhantes aos dos grandes (Cannes, Berlim, Veneza). Era um sonho muito, muito alto, especialmente naqueles anos em que o Brasil se recusava a abrir os olhos para o mundo.

Leon, nascido na Síria e tendo viajado por dezenas de países, era por definição um “cidadão do mundo”. Queria, apenas, juntar suas duas paixões – o cinema e o Brasil. Fora crítico de cinema, especialmente na Folha de São Paulo, o primeiro a abrir nossos olhos para filmes que não fossem americanos, ingleses, franceses ou italianos. Teve ainda que lutar duro contra a censura militar nos anos 70, quando cometeu a ousadia de querer exibir aqui filmes cubanos, chineses, soviéticos etc. Perdemos o contato nas ladeiras da vida, mas acompanhei a distância o crescimento da Mostra, com suas longas filas de jovens em busca de filmes-cabeça. Sempre com uma equipe reduzida e contando cada centavo, Leon conseguiu trazer a São Paulo grandes cineastas, como Wim Wenders e Pedro Almodóvar, e inúmeros filmes importantes.

Um batalhador incansável, que ainda na cama do hospital fazia planos para a 35a. edição da Mostra, marcada para o final do mês (leiam, por favor, este seu depoimento sobre a vida, o cinema e a doença).

E vamos rezar para que outubro não nos tire mais nenhum grande talento…

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