Nesta era de celebridades, em que qualquer participante do Big Brother (ou até ex-BBB) desfila em limusines e é agraciado pela midia com manchetes e acepipes, chega a ser emocionante contar aqui o que me aconteceu hoje.

Saindo de mais um dia suado no pavilhão da CES, tivemos que encarar a já tradicional fila para pegar o ônibus que nos levaria de volta ao hotel. Ali, enquanto esperávamos nossa vez, surge do nada uma figura com rosto ligeiramente familiar. Bingo! Era Tomlinson Holman, o inventor do padrão THX de processamento de áudio, considerado um dos gênios da indústria eletrônica. Discretamente, ele também foi esperar sua vez na fila – como todos os mortais – e, já dentro do ônibus, sentou-se logo atrás de mim. Na saída, não resisti e pedi para entrevistá-lo. Com a elegância dos que conhecem a propria importância, e por isso não precisam ostentá-la, ele polidamente recusou. Mostrando seu crachá, onde se lia “Apple Computer”, mr. THX explicou que a empresa o impede de dar entrevistas. Desculpou-se, polidamente: “Se fosse oito meses atrás, não teria problema”.

Lembrei-me então que já tinha lido algo a respeito. No início do ano passado, Holman foi procurado por um certo Steve Jobs. Insatisfeito com a qualidade de áudio dos produtos Apple, Jobs queria contratá-lo para dar um jeito nisso. Bem ao seu estilo, o fundador da Apple foi buscar o melhor profissional da área. A condição era que Holman trabalhasse quase em segredo, sem alarde. Ninguém sabe exatamente o que ele faz, mas pode-se ter certeza de que os próximos lançamentos com o logotipo da maçã terão uma qualidade de áudio bem superior.

Um pouco de história. No final dos anos 70, logo depois de estourar nas bilheterias com o primeiro Star Wars, George Lucas levou para casa uma copia do filme e ficou decepcionado com a qualidade do som. Com todos aqueles efeitos sonoros, ao ser reproduzido numa reles fita magnética o filme perdia a maior parte do seu impacto. Lucas então convocou Tomlinson Holman, então um jovem engenheiro de som do Vale do Silicio, para estudar o que fazer. O resultado, após meses de pesquisas e testes, foi o padrão THX, que busca reproduzir no ambiente de uma sala de estar a sensação que as pessoas têm numa sala de cinema.

Como homenagem ao trabalho, Lucas deu ao padrão o nome THX, tirado justamente das iniciais de seu nome. Não apenas criou uma nova referência em áudio para cinema e vídeo, como montou a partir daí mais uma de suas minas de ouro. A Lucasfilm, sua produtora, passou a vender o software THX (desenvolvido a partir das ideias de Holman), cobrando royalties pelo seu uso.

Este foi o homem que encontrei hoje, por mero acaso, na fila do ônibus. Sem limusine nem badalação. Como sabe todo especialista em áudio, Holman é genio na materia – uma celebridade com todas as letras. Mas não precisa ostentar essa condição.

2 thoughts on “Encontro com mr. THX

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