Leio que a cidade de Balneário Camboriú (SC) está inaugurando um dos edifícios mais altos do Brasil. Na verdade, são duas torres de 164m de altura, cada uma com 49 andares. Fui checar no site Skyscraper.com, um dos mais detalhados sobre o assunto, e vi que o Brasil está entre os campeões mundiais em número de arranha-céus.

Quando se trata nas grandes cidades, já dá arrepios pensar que tantos edifícios absurdamente altos estão sendo construídos. Agora, falando de um centro turístico como Camboriú, que teria tudo para ser um dos locais mais aprazíveis do país, essa tendência é ainda mais lamentável. Fico aqui pensando no visual das duas torres, poluindo a vista das praias. O pior é que essas construções são autorizadas no Brasil da forma menos indicada, sem qualquer traço de planejamento urbano, como se fosse possível uma cidade crescer indefinidamente para o alto sem prejudicar o que está cá embaixo.

O site é interessante por mostrar que a mania de construir torres caiu em desuso até mesmo nos EUA, país que as inventou. Hoje, as maiores estão em países como China, Malásia, Índia e Brasil (sem falar dos reinos da fantasia que são os emirados árabes). A Europa, então, baniu os arranha-céus da paisagem há muito tempo. Prova de civilidade.

Lembro que um amigo residente em Londres me contou, anos atrás, sua perplexidade ao procurar apartamento para morar. Descobriu, atônito, que na capital inglesa os prédios sem estacionamento são mais valorizados; há até incentivos da Prefeitura local para quem os constrói, desestimulando essa praga que temos no Brasil dos edifícios com quatro, cinco, seis vagas na garagem. O raciocínio é claro: quanto mais alto um edifício, mais gente irá ocupá-lo; e, se cada família possui quatro ou cinco carros, cada apartamento construído representa mais congestionamento no entorno (sem falar no lixo, poluição etc). Multiplique isso por centenas, milhares de prédios erguidos a cada minuto e temos uma límpida explicação para o caos do trânsito nas grandes cidades brasileiras.

São Paulo, é claro, representa o suprassumo dessa tendência. Prefeitos, governadores e políticos em geral, de todos os partidos, beneficiam-se desse crime ao conquistar apoio financeiro junto às construtoras.

E a população assiste a tudo passivamente. Depois, não adianta reclamar contra a violência no trânsito.

3 thoughts on “Arranhando os céus

  1. Caro Orlando,

    Tenho parentes que vivem em Camboriu e estive por lá duas vezes recentemente. É assustador o apetite das construtoras, simplesmente não existe gabarito, os prédios são absurdamente grandes. Nem precisa dizer que os engarrafamentos são constante e no verão eles tem mil problemas com a enorme quantidade de pessoas. Coisas do Brasil… falta de planejamento, fiscalização… Triste.

    Abs

    Julio

  2. Sou a favor de prédios altos, coisa de admirador mesmo. Acho que não adianta limitar suas alturas e não limitar a sua concentração por área, o impacto é o mesmo. Sua construção não está em desuso nos EUA não, as Torrres da Liberdade, que já estão quase prontas, serão mais altas que o WTC, e a construção do Chicago Spire só foi cancelada devido à crise imobiliária. Quanto à Europa, altas torres nunca foram o seu forte, talvez devido ao caráter conservador do velho continente.

  3. Moro em Balneário Camboriú e realmente me assusta a quantidade de prédios que estão sendo construídos, principalmente na av.Atlântica (Beira-Mar). No inicio da tarde, com sol ainda alto, já tem muita sombra na faixa de areia, prejudicando o veranista. Não existe projeto de planejamento urbano, somente a ganância das construtoras (principalmente duas, que dominam o mercado) e tudo com a conivência da prefeitura. Com o ritmo de crescimento atual, dentro de cinco anos, segundo dados do secretário Pavoni, a população existente em época de temporada será a população normal da cidade. Atualmente, demoro 1hora e 10 minutos (em horário de pico) para chegar em casa, em um trajeto de 12Km… Com certeza deve ter muito administrador público recebendo “um por fora” para autorizar novas construções. Estou me mudando de cidade, aqui virou um inferno, somente bom para argentinos e afins, aposentados e veranistas.

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