Talvez seja apenas um episódio isolado. Mas, considerando as partes envolvidas, há boas chances de que uma disputa hoje restrita à cidade de Nova York ganhe desdobramentos internacionais. Refiro-me à ação judicial que as seis maiores redes de TV dos EUA (ABC, CBS, Fox, NBC, PBS e Univision) estão movendo para tirar do ar um serviço chamado Aereo. Mantido pelo bilionário Barry Diller, ex-executivo de Hollywood, o Aereo permite que qualquer pessoa na cidade receba os sinais de TV aberta, via internet, inclusive em aparelhos portáteis como tablets e smartphones. Claro que as emissoras não estão gostando nada dessa concorrência.

O problema é que Diller está conquistando apoios inesperados. Numa primeira instância, em julho, a Justiça indeferiu o pedido das redes; depois, duas entidades que defendem a “liberdade total das mídias” saíram em favor do serviço: a EFF (Electronic Frontier Foundation) e a PKP (Public Knowledge). Agora, nesta segunda-feira, foi a CEA (Consumer Electronics Association), representando mais de 3 mil empresas, a maioria fabricantes de aparelhos eletrônicos, que divulgou comunicado apoiando o Aereo. “Temos que lutar contra setores do mercado que insistem em agir como no passado”, disse Gary Shapiro, presidente da CEA, comparando o caso ao vencido pela Sony em 1984, quando os estúdios de cinema quiseram proibir a venda do videocassete alegando quebra de direitos autorais (história que conto em detalhes no livro “Os Visionários“, no capítulo dedicado a Akio Morita, fundador da Sony). “Nos dois casos, a tecnologia ajuda a expandir o público”, comentou Shapiro. “As transmissões abertas são públicas e gratuitas, e o consumidor não pode ser controlado por velhas empresas.”

E por que acho que a questão pode interessar a quem não vive em Nova York? Simples: Diller usa a cidade apenas como piloto de seu projeto, que tem ambições muito maiores. E, com a reação das emissoras, quebra um importante elo que existe (ou existia) entre estas e os fabricantes, dois dos três pilares que sustentam a indústria eletrônica (o terceiro é Hollywood). Se o Aereo realmente for liberado e der certo como modelo de negócio, não há dúvida que outros serviços similares irão se espalhar pelo mundo.

A questão é apenas saber se isso será bom ou ruim. Vamos ver.

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