Tecnologia tem disso: a toda hora surgem expressões e siglas, criadas sabe-se lá por quem, para identificar novos recursos e conceitos. Muitas vezes, não fazem sentido. Exemplo: até hoje não engoli inicialize, que algum iletrado um dia traduziu para “inicializar” e acabou pegando. O idioma de Shakespeare consegue acomodar as coisas porque não usa o nosso infinitivo verbal. Talk pode ser tanto o verbo (falar) quanto o substantivo (fala), e todo mundo se entende.

Já as traduções costumam ser torturantes. Já li e ouvi, acreditem, “brausear” (no sentido de navegar pela tela, do inglês browser), “startar” (provavelmente inventado por alguém com preguiça de “começar”, tradução de start), “artefato” (na versão de artifact, que na verdade é “artifício”) e o já calejado “proprietário” (querendo se referir a recurso que determinada empresa patenteou, o que em inglês se diz proprietary). Isso tudo para ficar apenas no campo da tecnologia.

Pois bem, preparemo-nos todos para “Internet das Coisas”, que algum engraçadinho adaptou de Internet of Everything (“internet de tudo”), já criado com sigla e toda a pompa: IoE. Essa é a próxima onda tecnológica, dizem os magos da indústria. De cara, a expressão me deixou em dúvida: se é “de tudo”, o que virá depois? O “pós-tudo”, como dizem artistas de vanguarda e críticos quando não sabem como definir determinada obra?

Confesso que tenho procurado a resposta há alguns meses, mas não encontrei nada de convincente. A Wikipedia diz que o conceito IoE nasceu (na verdade como IoT: Internet of Things) em 1999, graças ao cientista inglês Kevin Ashton. Até agora, era apenas isso, coisa de cientista – e não sei se essa é uma boa referência. Mas empresas mais antenadas começaram a trazer a ideia para o mundo real, não por filantropia mas porque estão enxergando que pode dar dinheiro. É o caso da gigante americana Cisco Systems, cujo presidente, John Chambers, vem se tornando o maior “evangelista” (outro termo horrível do dialeto tecnicóide) do IoE.

Segundo Chambers, num futuro que não vai demorar todos os seres humanos estarão de algum modo conectados entre si, tendo como base a internet. Nossos aparelhos terão sensores de comunicação, assim como nossas casas e nossos carros. Usaremos roupas “conectáveis”, equipadas com microsensores que irão monitorar 24 horas por dia o que acontece com nossos corpos; se você quiser, esses dados poderão chegar a seu médico ou hospital preferido para as devidas providências. A temperatura de nossas casas e salas de trabalho será ajustada automaticamente, conforme as necessidades de cada momento. E, no caos do trânsito, não haverá mais acidentes porque os carros virão equipados com sensores de distância, mantendo-se sempre a salvo de motoristas irresponsáveis.

Ficaram curiosos? Leiam esta entrevista de Chambers, explicando tudo em português tão claro quanto possível. Existem outras fontes, como o próprio site Internetofthings e um consórcio chamado iofthings, formado por empresas que estudam o tema. Esta semana mesmo, o excelente site Business Insider publicou extenso artigo sobre o que irá mudar com isso em vários ramos de negócios. Alguns trabalhos já ganharam tradução em português, como nos sites das empresas IBM, Intel e a própria Cisco.

 

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